Review | The Circle US [Season 1]

Nota
4.5

“O jogo da vida real que pergunta até onde você iria para ser popular nas redes sociais se houvesse 100 mil dólares em jogo.”

Oito jogadores são levados a um hotel, cada um em seu quarto isolados do resto do mundo e do resto dos jogadores, tendo apenas o Circle, um programa de interação social controlado pela produção, para que eles interajam entre si, através de testes e mensagens de textos públicas ou privadas. Cabe agora a cada um criar seu perfil, através das fotos e das impressões causadas nas mensagens e testes, visando se tornar popular, conquistar os outros jogadores e garantir o posto de mais popular da edição, o posto que vai garantir um prêmio de 100 mil dólares no final do jogo.

A grande jogada desse reality-show é que cada participante pode escolher se querem ser eles mesmos ou viver um personagem, mudando sua personalidade ou até sua identidade, permitindo até se tornar um catfish dentro do jogo para garantir sua vitória. Semanalmente os jogadores votam para escolher os mais populares, garantindo um ranking ao final de cada episódio, o que será usado para definir os Influencers da semana, que serão os dois mais populares da avaliação, com o poder de escolher entre os outros jogadores quem deve ser Bloqueado, ou seja, ser removido do programa e substituído por outro participante. The Circle é muito mais que um jogo, é uma batalha pelo trono de mais popular, onde cada jogador deve escolher o que pretende mostrar de si próprio e o quanto de seu verdadeiro eu precisa esconder para não ser eliminado.

Logo no primeiro episódio somos apresentados aos oito jogadores iniciais: Alana, uma modelo de 25 anos que parece ser a tipica garota superficial; Seaburn, um rapaz de 29 anos que resolve jogar fingindo ser Rebecca, sua namorada de 26 anos; Antonio, um jogador de basquete de 24 anos que finge ser solteiro para tentar conquistar a popularidade com as garotas; Karyn, uma lésbica de 37 anos que resolve jogar como Mercedeze, uma garota mais magra de 27 anos que é bissexual; Chris, um gay de 30 anos que resolve jogar sendo ele mesmo; Sammie, uma garota bissexual de 24 anos que resolve jogar como ela mesma, porém solteira; Joey, um barman de 25 anos que parece quer ser o garanhão da edição e resolve jogar sendo ele mesmo; e Shubham, um nerd descendente de indiano de 23 anos que odeia redes sociais e resolve jogar sendo ele mesmo, tentando provar que não precisa ser o clichê de popular para ganhar o programa.

Aos poucos vamos vendo a construção de cada perfil, com diversos joguinhos obrigando cada participante a mostrar mais de si ou de seu personagem, criando novas impressões e dando sua cara a tapa, tendo inclusive momentos de interações anônimas, onde os participantes podem destilar seu veneno para provocar ainda mais seus concorrentes. Tudo isso vai se intensificando a medida que vemos as substituições acontecerem, nos apresentando: Miranda, uma romântica bissexual de 26 anos que resolve ser ela mesma; Alex, um nerd recém-casado de 32 anos que entra no programar para jogar como Adam, um bonitão de 27 anos que é musculoso, ama academia e está pronto para vencer a todo custo; Bill, um belo rapaz de 27 anos que prefere focar no bom humor e ser ele mesmo; Sean, uma social media de 25 anos que resolve usar fotos de sua amiga magra; e Ed e Tammy Eason, um rapaz de 23 anos e a sua mãe de 52 anos, que juntos assumem o papel de Ed, um rapaz de 26 anos que apesar de usar as fotos e o nome do filho, usam uma personalidade completamente criada pela dupla.

É incrível como, mesmo no caso dos catfishs da edição, cada participante possui camadas que vão além do que eles mostram por fora, o que nos faz parar para refletir e ver o coração de cada um deles. Como as crenças de Sammie, o passado de Miranda ou os receios de Karyn, tudo fica claro durante a edição e nos faz refletir sobre o quanto as redes sociais podem ser cruéis em vários momentos, o quanto vivemos num mundo onde a aparência sempre conta mas, se dermos uma pausa para escutar quem realmente cada um de nossos ‘amigos’ são intimamente, podemos ser surpreendidos ao descobrir quantas pessoas maravilhosas existem ao nosso redor, que são o tempo todo forçados a viver debaixo de mascaras para conseguir transitar na sociedade sem ser julgado.

Com doze episódios de cerca de 50 minutos, o show lembra muito as bases de Big Brother e Catfish, por parecer ir mais fundo no conceito de estratégia, jogo, fingir ser quem não é e mostrar o que cada um pode ser capaz de fazer por um grande prêmio no final. Por outro lado, é impossível não enxergar um clima do “Nosedive”, de Black Mirror, por conta de ir fundo no conceito de classificações através da popularidade e do julgamento que os outros dispensam a suas atitudes e palavras. O show é completamente inusitado, tocando fundo nas feridas de tantas pessoas e levantando questões tão atuais e emocionais, como ver além das aparências e ter honestidade.

Tudo no programa é tão pesado e complexo, mas a produção parecia saber exatamente no que estava mexendo, fazendo a espetacular escolha de colocar Michelle Buteau, uma grande comediante, para narrar o programa e quebrar os climões que surgem cada vez que um participante abaixa suas defesas e se abre. Com toda a certeza, não tem como não desejar ver uma segunda, terceira e quantas mais temporadas forem possíveis para esse programa, mesmo depois de seus decepcionantes episódios finais, que parecem enrolar demais, se alongando demais, criando dois episódios que poderiam facilmente ser resumidos em apenas um.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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