Nota
“A história não é minha, mas está cheia de fantasmas de todos os tipos.”
Dani Clayton é uma jovem professora em busca de oportunidades na Londres de 1987, o que a leva a responder o anuncio do Lorde Henry Wingrave para se tornar tutora de seus dois sobrinhos, Miles e Flora Wingrave, dois garotos que perderam os pais a poucos anos e agora vivem isolados numa suntuosa mansão em Bly, no condado de Essex. Dani então ruma para seu trabalho integral na Mansão, uma propriedade onde as crianças residem com a governanta, Hannah Grose, o cozinheiro, Owen Sharma, a jardineira, Jamie, e muitos outros mistérios, mistérios que parece assombrar o local, mistérios que podem ter conexão com a morte da tutora anterior, Rebecca Jessel, e mistérios que só se fortalecem com a chegada de Dani, que trás seus próprios fantasmas para dentro da mansão.
Depois do sucesso de A Maldição da Residência Hill, era de se esperar que Mike Flanagan ganhasse o sinal verde para uma segunda temporada, o que fez nascer oficialmente a série antológica The Haunting, com cada temporada explorando uma propriedade assombrada de um universo literário. Em seu segundo ano, que estreou em 9 de outubro de 2020, Flanagan decidiu adaptar livremente o livro A Volta do Parafuso, de Henry James, trazendo uma estrutura bem mais fiel em sua premissa, e nos levando diretamente para gigantescas citações e homenagens à obra, sendo completamente fiel aos tempos que ela se passa e levantando questões latentes sobre sexualidade, mistério, medo e passado. Fazendo jus ao seu caráter antológico, e aos aprendizados com a franquia American Horror Story, a série mantém vários nomes do elenco da temporada anterior nesse novo ano, mas vivendo novos personagens, e adiciona alguns nomes fortes para reforçar ainda mais a trama.
Victoria Pedretti (que interpretou Nell) volta vivendo Dani, a misteriosa tutora que é arrastada para um mundo perigoso no momento que entra na Mansão Bly, ela começa a ser envolvida pelos diversos eventos que circundam a casa e começa a buscar conhecimento sobre o passado do local, sem entender ao certo o que realmente está vivendo. Dani é a estrela máxima da show, ela é o centro dos eventos e carrega um mistério envolvente que desperta nossa curiosidade constantemente, nos deixando o tempo em dúvida se queremos mais saber a verdade sobre os fantasmas da casa ou a verdade sobre o fantasma que a persegue. Oliver Jackson-Cohen (que viveu Luke) retorna no papel de Peter Quint, um homem que era o braço direito do Lorde Wingrave, mas ele começou a se envolver com Rebecca, um romance puro que acabou o prendendo às teias da casa, que o fez morrer dentro da Mansão Bly e se tornar um dos fantasmas que ali residem, um fantasma com uma grande conexão com os eventos da casa e com a personalidade das crianças, um homem que fica preso a um clichê, o canalha golpista, mas que é cheio de camadas e histórias que precisam ser vistas antes de realmente entender quem ele é. Tahirah Sharif, vivendo Rebecca, é o ponto central de muitos dos segredos, a história inteira é guiada pelo que aconteceu com ela, é a partir dela que conhecemos a Mulher do Lago, que conhecemos os mistérios da casa e do comportamento estranho de Flora e Miles, e que começamos a enxergar tudo que Dani encontrou ao chegar na casa.
A Mansão Bly é brutal com seus fantasmas, fazendo-os sofrer eternamente e se tornarem vítimas dos pesadelos que vagam pela casa. A história dos irmãos é muito mais densa e complexa do que poderíamos imaginar, o que coloca nas costas de Amelie Bea Smith e Benjamin Evan o maior desafio da produção, eles começam com comportamentos estranhos, se descascam no desenrolar do enredo ao mostrar as diversas faces das crianças através do tempo, e se completam insanamente no momento que vamos chegando ao ápice da história. Eles são conectados com a casa de uma forma inquestionável, e ao mesmo são a chave para muitos dos segredos da casa, Flora entende muito mais do que demonstra, Miles está muito mais submerso nos eventos da casa do que realmente percebemos. É através deles que a história de Hannah, Owen e Jamie evolui, é através deles que os fantasmas da casa começam a ter voz para os espectadores. A mansão é a grande vilã da história, mas os fantasmas são peças violentas no jogo de xadrez que é a série. O epilogo da história, narrado pela misteriosa personagem de Carla Gugino, é a grande prata da trama, cheia de significado, a sequencia que inicia a série tem muito a contar, mas seu verdadeiro significado só fica claro quando a verdade sobre a Mansão Bly é revelada.
Muito mais ramificada e complicada do que seu ano anterior, a segunda temporada de The Haunting vai fundo na obra de Henry James e cria uma produção muito mais profunda e diversificada do que sua base. Indo para frente e para trás de uma forma inimaginável, a série conecta seus eventos de uma forma incisiva, revelando os segredos enterrados na casa aos poucos pra só depois esclarecer as assombrações que se conectam com cada um dos segredos. A Mansão guarda verdades obscuras sobre Henry, sobre Hannah, sobre Becca, sobre Peter, sobre Viola e Perdita Willoughby, sobre Charlotte e Dominic Wingrave, e sobre tantos outros que por ali passaram, que ali deixaram um pedaço de si ou tudo que ainda tinham. Apesar de errar em alongar demais a história, simplesmente para completar nove episódios, o show consegue criar algumas tramas valiosas, que só enriquecem a história tirada diretamente do livro. O show nos mostra que é possivel se emocionar e ter medo ao mesmo tempo, criando uma produção que tem um ritmo e estilo diferente da temporada anterior, mas que consegue se manter impecável nos quesitos fotografia, trilha sonora e elenco, deixando claro o tempo todo o quanto as crianças adicionam uma outra volta no parafuso.
“Se uma criança da um efeito de intensidade na história, o que diriam de duas?”
Icaro Augusto
Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.