Review | The Midnight Gospel [Season 1]

Nota
5

“Bom dia, amantes da simulação! Aqui é o Piroposa,
aquecendo seu coração e refrescando a sua mente.”

Clancy Gilroy vive isolado em sua casa junto com Computador, seu Simulador de Universos, com o qual Clancy viaja diariamente para conhecer novos planetas e encontrar novos entrevistados para o seu spacecast, o Midnight Gospel. Explorando o multiverso de uma forma intrínseca, o jovem começa a encontrar versões paralelas de futuro para a terra e planetas habitados com as mais peculiares vidas inteligentes, como é o caso do Planeta dos Palhaços, nos levando a refletir sobre questões tabu ao mesmo tempo que nos proporciona uma experiencia extrassensorial com seu podcast visual.

Lançado pela Netflix em 20 de Abril de 2020, o show criado por Pendleton Ward e Duncan Trussell traz o melhor de cada um deles. Ward, que fez sucesso com a produção de Adventure Time, traz toda a sua essência multifacetada de uma animação completamente psicodélica e cheia de simbolismo, que faz as próprias cenas de cada episódio serem um show a parte, completamente didática e moralizada, que se desenvolve sem precisar das falas para se valorizar. Já Trussell traz para o show o seu podcast, o The Duncan Trussell Family Hour, trazendo para episódios diálogos completamente baseados nas entrevistas reais derivadas de seu podcast, com os entrevistados reais dublando os personagens que representam. Aos poucos vamos sendo levados a uma viagem holística e cheia de camadas ao acompanharmos bate-papos bem descontraídos e imersivos com Drew Pinsky, um médico que estuda o tratamento de dependentes e participa de um debate sobre os efeitos das drogas e seus dilemas morais, Anne Lamott e Raghu Markus, uma romancista e um guia espiritual que juntos entram num debate sobre a morte e o sentido da vida, Damien Echols, um homem que passou por 18 anos de prisão por um crime que não cometeu e entre num incrível debate sobre misticismo e religião, entre tantos outros grandes nomes que se unem a Trussell, que é o dublador do Clancy, para criar uma experiencia completamente transcendental.

Todo esse posicionamento filosófico se equilibra com um humor negro comum à sua categorização de animação para maiores, que quebra os tabus do moralismo ao exacerbar objetos sexuais nos cenários, como o próprio simulador que possui o formato de uma vagina, e não poupando em seus diálogos, que são completamente crus, sem medo de julgamento e preenchido com palavrões. Mas não é só o conhecimento que Clancy colhe de cada visita, cada planeta que ele passa, dos quais ele sempre acaba escapando poucos segundos antes da conclusão de um evento apocalíptico que destrói o planeta e seus habitantes, ele traz um calçado como lembrança, as vezes ele traz lembranças adicionais, mas sempre traz um calçado, que fica guardado em sua estante como um troféu sendo exibido. Um habito pouco compreensível mas que logo se torna aceitável, nos deixando curiosos para perceber o momento que ele encontrará o seu souvenir do episodio. Por conta desse excesso de camadas é que a série se permite ser assistida repetidas vezes, afinal é dificil acompanhar as conversas e a animação ao mesmo tempo, fazendo com que a repetição surja como melhor opção para ser capaz absorver todas as experiencias da trama profunda e de suas conversas estranhamente interessantes ao mesmo tempo que complexas e filosóficas.

Com seus oito episódios de cerca de 25 minutos, o show apresenta uma genialidade indescritível, equilibrando sua seriedade com o colorido de seus desenhos, suavizando a realidade com a surrealidade de seus cenários e fragmentando sua complexidade com a fantasia que circunda seu protagonista. É surpreendente como todos os episódios vão formando uma rede invisível ao redor do espectador, sem que percebamos, construindo um pensamento único que só se materializa em “Mouse of Silver” (season finale), quando o multiverso se quebra na nossa frente ao mesmo tempo que Clancy começa a entrevistar Deneen Fendig, quebrando completamente as roupagens de Duncan Trussell, o forçando a tirar sua fantasia de Clancy e ter com sua mãe uma das mais dolorosas e emocionantes conversas, capaz de rasgar nosso peito e estraçalhar nosso coração quando todas as peças se encaixam e você percebe o verdadeiro sentido da série. Finalizando sem deixar clara a possibilidade de uma segunda temporada, o show é tão intenso que, ao final, ficamos nos questionando: Será que estamos prontos para confrontar uma verdade tão cruel?

“Muito, muito obrigado, habitantes do multiverso, por acompanharem o Midnight Gospel.”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *