Review | The Politician [Season 1]

Nota
4

ATENÇÃO! ESTA SÉRIE APRESENTA CONTEÚDOS SENSÍVEIS QUE PODEM PERTURBAR ALGUNS ESPECTADORES.

“Era um sonho palpável, do tipo que chega com o crepúsculo entre o sono e o mundo real. Eu me sentei na cama e falei em voz alta: ‘eu vou ser presidente dos Estados Unidos'”

Payton Hobart é um estudante rico de Santa Barbara, filho adotivo de Keaton e Georgina Hobart, ele faz parte de uma família que é rica de gerações e, aos sete anos, teve um sonho que o fez dedicar-se a se tornar o presidente dos Estados Unidos. Sua vida segue um roteiro criado por ele desde a infância, quando começou a estudar as biografias dos presidentes americanos e definiu metas que precisava alcançar para construir um perfil perfeito para se adequar ao seu sonho, e agora está em um momento crucial dessa jornada: ele precisa ser eleito presidente do Corpo Estudantil da Saint Sebastian e ser aceito em Havard, mas obstaculos incomodos começam a surgir em sua frente. River Barkley, grande amigo de Payton e com quem ele já teve um envolvimento romântico, é um dos atletas mais populares da escola, jogador de lacrosse e namorado da intimidadora Astrid Sloan, que o convence da necessidade de se candidatar como presidente do grêmio estudantil, concorrendo com Payton, para ter a chance de ser aceito na faculdade que seus pais escolheram para ele. Mas o que parecia uma intriga interna entre dois ex-amantes se transforma completamente quando River se suicida na frente de Payton, quebrando as barreiras emocionais do aspirante a presidente e fazendo Astrid assumir seu posto como candidata, se tornando o estopim de uma violenta guerra dentro da escola.

Criada por Brad Falchuk, Ian Brennan e Ryan Murphy, trio que criou as aclamadas Glee Scream Queens, The Politician é uma produção que mistura intriga adolescente, humor e politica de uma forma que nos envolve e nos desperta curiosidade, repetindo uma fórmula que deu certo nas outras duas produções para criar uma ideia original, mergulhando no terreno profano e incerto da politica. Oferecida inicialmente para a Hulu e a Amazon, a série acabou sendo ‘roubada’ pela Netflix com sua oferta de duas temporadas, criando um desafio em duas partes para os showrunners, e uma oportunidade de escalada para o enredo. Começando pela busca de Payton garantir o poderoso cargo dentro do colégio, e explorando todas as nuances que podem surgir no percurso, como o sucidio de seu melhor amigo, amante e adversário, a ascenção de sua arquiinimiga, as interações friamente calculadas com sua namorada, Alice Charles, e seus assessores, James Sullivan McAfee Westbrook, ou a escolha de Infinity Jackson para vice de Payton, uma garota com câncer terminal que, logo depois de ser anunciada como vice, ele descobre ser vítima de Síndrome de Munchausen por Procuração.

Complexamente bem construida do primeiro minuto até o final de seu último episódio, The Politician é inconfundivelmente uma série de Ryan Murphy. Cheia dos típicos personagens cheio dos trejeitos e personalidades que todos conhecem intimamente e tem presença cativa em suas séries, além de termos a presença da maravilhosa Jessica Lange em um papel que faz jus a escalação da estrela de American Horror Story. Protagonizada por Ben Platt, a série pode até prometer mostrar didaticamente os caminhos que Payton trilha até a Casa Branca, mas não é isso que os showrunners entregam, e isso é gratificante depois que vemos do que realmente a trama se trata. Payton não é um politico perfeito, ele é um jovem ambicioso, que criou uma jornada calculadamente artificial para parecer um politico perfeito, mas a sujeira que ele esconde embaixo do tapete é quem realmente vai nos prendendo na série, o romance não iniciado entre ele e River, que continua presente em sua vida a todo momento como uma personificação da sua consciência (que, pasmem, ele realmente tem), e uma missão em busca de encontrar uma humanidade dentro dessa vida artificial, de entender que ele não é tão inatingivel quanto ele acredita e que precisa lidar com seus sentimentos e ser humano uma vez na vida.

Apesar de tudo girar em torno de Payton, os personagens de apoio têm um tempo de tela que ajudam a fortalecer a narrativa, evoluir cada uma das pessoas que orbita a desventura do jovem politico e nos faz criar uma conexão com cada um deles, independente da indole desses personagens. David Corenswet vive um River intocavel, perfeito e beatificado, é doloroso ver toda a curta jornada que o jovem atleta vive durante o primeiro episódio, mas tudo se torna essencial para criar a pequena rachadura na máscara de Payton e fazer tudo desmoronar de dentro para fora. River consegue se tornar um guia espiritual para Payton de uma forma tão natural e tocante que nos cativa. Laura Dreyfuss vem de Glee para viver a fria McAfee, a mais estrategista da dupla de assessores de Payton, e que nos surpreende no decorrer dos episódios quando começa a mostrar ser capaz de ter sentimentos, mesmo que não os viva tão intensamente. A excelente Gwyneth Paltrow vive a protetora Georgina Hobart, mãe adotiva de Payton, que percebe todo o potencial do filho e acredita nele, colocando-o até acima dos seus filhos biológicos, os gêmeos Martin (Trevor Mahlon Eason) e Luther (Trey Eason). A dupla formada por Zoey Deutch (Infinity) e Jessica Lange (Dusty Jackson) vive um núcleo paralelo, mas que afeta diretamente a jornada de Payton, com Infinity sendo usada por sua avó, Dusty, para ganhar dinheiro e viagens, enquanto a avó a medica para mante-la doente, desenvolvendo uma personagem para Lange que oscila entre vilã e vítima, que possui camadas densas e, mesmo assim, nos conquista, sendo aquela vilã que amamos intensamente.

The Politician brilha por seus personagens desligados da realidade, mesmo que cheios de críticas ao mundo atual, figurinos e fotografia docemente artificiais, arcos narrativos que não tem pudor de se transformar sem percebermos, expressões exageradas e muito melodrama, a receita perfeito para um sucesso de Murphy. Com uma trama que aborda traições, reviravoltas, triângulos amorosos e escândalos de uma forma dinâmica, somos levados a passar pelo humor ao mesmo tempo que a trama aborda questões de saude mental, bissexualidade e busca de sucesso de uma maneira descontraída. Infelizmente o que começa intenso e envolvente, vai perdendo a dinamicidade por volta do sexto episódio e nos leva até o problemático “Vienna” (episódio 8), uma season finale que apresenta uma trama praticamente desconexa do resto da série, sem uma boa transição de enredo e que, apesar de nos deixar uma expectativa para uma segunda temporada, funcionária muito melhor como primeiro episodio do segundo ano do que como finalização do primeiro. Apesar disso, durante seus oito episodios de cerca de 50 minutos, o show sabe agregar bastante com um ótimo elenco de veteranos, oscarizados e personalidades da Broadway, ao ponto de construir personagens marcantes e desenvolver temáticas interessantes que podem ser melhor exploradas numa segunda temporada.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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