Review | The Resident [Season 1]

Nota
4.5

“Eu só tenho uma regra e ela se aplica a tudo: eu nunca estou errado.”

Devon Pravesh, que acabou de se formar com honras na Universidade de Medicina de Yale, começa seu internato no Chastain Park Memorial Hospital, onde acaba sendo coloca sob a supervisão do Dr. Conrad Hawkins, um residente idealista e apaixonado pela medicina que, por conta de seu histórico como médico de campo na Marinha, emprega métodos muito diferentes do que Pravesh leu nos livros e protocolos. Seguro de suas convicções, Devon encontra em Conrad um choque sobre a forma como ele enxerga a própria vocação, tudo isso enquanto se vê imerso numa equipe que deve enfrentar diversos desafios éticos, pessoais e profissionais. A equipe ainda se complementa com a presença de Nic Nevin, uma enfermeira aspirante a médica que possui um passado com Conrad, Mina Okafor, uma cirurgiã residente que veio da Nigéria e luta para conseguir seu espaço, e Dr. Randolph Bell, um cirurgião renomado com um ego inflado e um problema que afeta sua vida e sua carreia, uma doença que tira a estabilidade de sua mão e o fez ser apelidado, pelas costas, por alguns colegas como Mão Morte.

Criada por Amy Holden Jones, Hayley Schore e Roshan Sethi, a série concebida na Fox em 10 de maio de 2017 se propõe a fugir do viés médico mais comum dos dramas médicos, aqui o foco não é o paciente, a doença ou o tratamente, é a complexa teia de decisões éticas e corporativas que médicos enfrentam diariamente, ela foge da trama que vai fundo na sala de cirurgia para explorar o impacto que cada decisão de um médico pode ter nas vidas dos pacientes e na carreira dos profissionais de saúde envolvidos. Isso fica claro desde o episódio piloto, quando vemos Dr. Bell cometer um erro numa apendicectomia que faz com que sua mão acerte uma arteria e o paciente morra de uma hemorrágia, ou quando vemos o desespero de Devon ao tentar ressucitar uma paciente ao ponto de não enxergar que ela já estava em morte cerebral, colocando-a presa a um coma que só faria a familia sofrer muitos anos.

Apesar de termos Devon como o ponto de ignição de toda a trama, fica claro logo nos primeiros episódios que o protagonista na verdade é Conrad, Devon surge apenas como um instrumento para, através da parceria entre o médico experiente e o jovem profissional, criar uma plataforma que permite uma rica exploração da evolução ética e moral de cada dilema dentro de um hospital. A trama gira completamente em volta de Conrad, nos proporcionando uma tensão romântica pela sua luta para reconquistar Nic, injetando adrenalina a medida que vamos vendo surgir um embate ideológico (e ético) entre o residente e seus superiores, Dr Bell e Dra Lane Hunter, e brincando com os altos e baixos da amizade de Conrad com o Dr Jude Silva, cirurgião que serviu no exercito com ele e acaba formando um triângulo amoroso junto com ele e Nic.

Matt Czuchry consegue, de forma hábil, guiar a trama de forma intensa e detalhista, seu Conrad consegue equilibrar a dureza de um médico revoltado com o sistema com a sutileza e carisma de uma médico que facilmente se torna o preferido de todos, é impossivel não considerar o seu sorriso, que se torna sua marca registrada, como um arremate perfeito para qualquer discurso, capaz de tranquilizar qualquer paciente depois de um diagnostico dificil. Ao seu lado, Emily VanCamp é outra grata adição, ela transforma Nic numa figura importante para o hospital, ela pode ser só uma enfermeira em meio a tantos médicos, mas é impossivel não notar sua presença, não ouvir sua opinião ou não desejar ver cada vez mais interações entre ela e Czuchry. O antagonismo da trama, fica nas mãos de Bruce Greenwood, um ator que mata no peito a missão de trazer um médico que vamos amar odiar, ao mesmo tempo que apresenta camadas de humanidade por trás do monstro representado por Dr. Bell, é possivel ver que existem fagulhas de humanidade no intimo do médico, mas nada que mude sua imagem de vilão que vai ser crucificado pelo público, sempre agindo contra os outros médicos, contra os pacientes e até contra a CEO do hospital, um personagem construido para fazer o publico desejar ver cair de seu pedestal.

Fugindo dos padrões de séries médicas, The Resident deixa os procedimentos médicos de lado para focar nos dilemas financeiros e administrativos, reforçando a narrativa de que o sistema de saúde estadunidense gira em torno de números, que a realidade da medicina estadunidense está mais para negócios do que para ciência, uma abordagem que rende bons frutos, principalmente pelo elenco competente e os personagens bem construidos. Bebendo bastante de HouseE.R. e Grey’s Anatomy, o show consegue pegar o melhor de cada produção e criar sua própria identidade, colocando sempre em primeiro plano que atuar em saúde não é amor, é pensar em lucros, e é justamente esse ideal que divide os protagonistas (que não concordam) com os antagonistas, apesar de dar uma luz no meio dos antagonistas, na forma de Claire Thorpe, e ainda conseguir tempo para explorar tramas emocionantes, como o doloroso desfecho de Lily Kendall.

“Um dia desses, essa sua necessidade de brincar de Deus com as regras vai te custar a vida de um paciente. E quando isso acontecer, haverá uma longa fila de pessoas prontas para ver a sua carreira médica pegando fogo.”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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