Nota
Já pensou o que pode acontecer se de repente uma cidadezinha americana fosse tomada por adolescentes? É isso que acontece em The Society.
Quando um grupo de jovens sai da cidade para uma excursão e, após um acidente na estrada, voltam. Porém, a cidade para onde eles voltam não é a que eles saíram, a cidade é exatamente igual ao lugar onde eles moram, mas toda a população desapareceu e, magicamente, uma floresta surgiu ao redor da cidade, impedindo qualquer pessoa de sair ou entrar.
A nova série da Netflix tem uma pegada pós-apocalíptica bem comum ao que já vimos em The 100, Maze Runner e Under the Dome. Nós vemos um isolamento misterioso que força os jovens a amadurecer e formar sua própria sociedade na busca pela sobrevivência, e, claro, temos os anarquistas e os céticos que buscam subverter essa sociedade ou tomar o seu controle. A série é uma trama digna de um roteiro pós-apocalíptico, mas que se agarra muito mais ao suspense e ao mistério do que a um desastre maior.
A série, que estreou em 10 de Maio de 2019, tem um ritmo extremamente rápido, a ponto de vermos a sociedade perfeita se formar nos dois primeiros episódios, e nos deixando curiosos para saber o que vem em seguida. Mas eis que em Childhood’s End (episódio 3) chega para tirar a infância, temos a morte de Cassandra (Rachel Keller) e, com isso, a sociedade perde o controle novamente. É nesse ponto que Allie (Kathryn Newton) assume o protagonismo e cresce, sem se esconder na sombra da irmã e buscando honrar seu legado.
O problema da velocidade da série ainda é outro: conhecer os personagens. A série acontece de uma forma tão veloz que o maior desafio é conseguir decorar os nomes dos personagens e dissociar as personalidades. Temos Gordie (Jose Julian), que dedica seus dias a encontrar o assassino da garota por quem era apaixonado; o Harry (Alex Fitzalan), que é brigado com Cassandra e causa um shipp instantâneo com a garota, sendo o personagem que mais ficamos em dúvida se temos pena ou raiva; e Campbell (Toby Wallace), que parecer ser, desde criança, um psicopata perigoso, que agora está preso nessa sociedade.
Temos os dilemas de Sam (Sean Berdy), o único gay da cidade e também o único surdo, o que o faz ser totalmente fora do padrão e, consequentemente, o mais excluído, imagine ser diferente de todas as pessoas que vivem na sua sociedade… Como se encaixar nela? Elle (Olivia DeJonge) se torna o alvo de nossa pena, a namorada de Campbell começa pouco a pouco a enxergar a verdadeira personalidade de seu amado, e vemos o desespero que passa a ser seus dias, sentindo que pode ser morta a qualquer momento e protagonizando uma das cenas mais dolorosas. Tardiamente conhecemos Lexie (Grace Victoria Cox), que surge como principal rival de Allie e produz cenas cheias de tensão.
A construção da série foca quase que totalmente em Allie, serve unicamente para vermos as várias faces do poder. A garota perde totalmente sua inocência com a morte da irmã e passa por uma gigantesca transformação durante a série, uma evolução que chega a nos assustar à medida que ela vai assumindo traços tiranos e desumanos, na busca por fazer a sociedade funcionar, chegando ao ponto de vermos traços de sociopatia. A série traz ainda muitos outros personagens fortes e relevantes, dos quais não posso falar por risco de trazer spoilers.
Mas a um fato certo é que a série segue de forma harmoniosa e parece ser inteiramente planejado para chegar à intensa revelação de Allie’s Rules (1×07), à eletrizante tensão de Poison (1×08) e, principalmente, nos levou às devastadoras reviravoltas de How It Happens (1×10), que possui uma cena final surpreendentemente capaz de nos deixar desejando uma nova temporada com mais explicações.
The Society é exatamente isso, uma demonstração clara e distópica do comportamento de uma sociedade atual forçada a amadurecer anos em apenas 6 meses, com pequenas doses de política, comportamento, anarquia, comunismo, capitalismo, etc. Vemos em cada personagem uma amostra de todos os tabus, clichês e representatividades que podem existir num universo social, tudo de bom e de ruim, e todos os resultados possíveis de incluir um grupo de pessoas num estado tão intenso de pressão e expectativa.
“Socialismo e Socialização, estamos num episódio de Riverdale ou na União Soviética?”
https://youtu.be/SivFwpoYVBM
Icaro Augusto
Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.