Review | The Toys That Made Us [Season 1]

Nota
4

“Nós vamos questionar por que esses pequenos pedaços de plástico tem tanto valor para nós.”

Quando George Lucas resolveu lançar Uma Nova Esperança, ele não revolucionou apenas os cinemas, o cineasta quis revolucionar ainda o mercado dos brinquedos ao lançar a primeira linha de brinquedos baseada em um filme. Por conta do desejo de Lucas, executivos da Lucasfilm saíram em busca de uma empresa que fosse capaz de aceitar um contrato para essa empreitada faltando apenas 6 meses para o lançamento do filme, se baseando apenas no roteiro do longa. Depois de ser rejeitado pela Mattel, pela Hasbro e pela Parker Brothers, o projeto desafiador foi aceito pela desconhecida Kenner, que criou diversas estratégias de marketing e lançou os primeiros bonecos apenas 1 ano depois do lançamento do primeiro filme, seguindo com a linha que, até hoje, já gerou uma receita de mais de 14 bilhões de dólares com os brinquedos da franquia.

Mas Star Wars não foi o único brinquedo que marcou época, e é justamente para falar sobre isso que a série, criada por Brian Volk-Weiss para a Netflix, se desenvolveu. Tendo uma primeira temporada com apenas quatro episódios, a série explora em cerca de 50 minutos todo o processo que levou desde a criação das linhas de brinquedo que marcaram época até seu atual estado, contando em todos os detalhes e com entrevistas dos principais envolvidos, a série usa tons divertidos e sacadas piadescas para nos envolver em um documentário que teria chances de ser tedioso, nos fazendo nos interessar nos detalhes técnicos, e acompanhar décadas de história.

Depois de contar a história de como a Kenner apostou pesado em Star Wars, passando pela compra dos direitos pela Hasbro até os dias atuais, vamos para a história de Ruth Handler, uma das fundadoras da Mattel, e sua aventura ao tentar criar um brinquedo para que sua filha, Bárbara Handler, pudesse brincar. Vamos conhecendo o dilema da mãe, que via seu filho Ken ter um mercado gigantesco de brinquedos, ao mesmo tempo que sua filha só podia brincar com recortes de papelão. Aos poucos vamos conhecendo a ideia da mulher de criar uma boneca baseada em Bild Lilli, uma boneca pornográfica alemã, revolucionando ao ser a primeira boneca com seios, e as contribuições de Jack Ryan, que foi fazendo com que a Barbie, mesmo criada em meio a diversas polêmicas e controvérsias, fosse enfrentando todas as questões e ganhando fama, mesmo com 50 anos de controvérsias diversas e muitas alterações. Uma forma de inspiração, a Barbie ganhou roupas, empregos, namorado, amigas, parentes, casa, moveis, e tantas outras novidades que ajudaram a criar um universo e uma mitologia capaz de representar as jovens de cada época.

Logo somos transportados para mais uma das grandes criações da Mattel, a missão cumprida por Roger Sweet, que deu o primeiro passo para a criação da linha Masters of the Universe, uma linha de bonecos musculosos capazes de bater de frente com a linha Star Wars da Kenner, uma linha composta, inicialmente, por três bonecos, dentre eles um musculoso boneco com um machado que foi batizado de He-Man. Foi então que Mark Taylor, um grande desenhista da época, foi escolhido pela empresa para criar visualmente uma linha de bonecos que assumisse as ideias de Sweet e o estilo visual que ficou famoso nas mãos de Frank Frazetta, criando finalmente uma linha encabeçada por He-Man, junto com seus aliados e inimigos (Aquático, Stratos, Teela, Zodac, MentorHomem-Fera e Esqueleto). O episódio conta a história de como a Mattle revolucionou, mais uma vez, ao fazer a primeira linha de brinquedos que inspirou um programa de televisão e fez sucesso para o público alvo em duas grandes bases de consumo.

Com o desejo de criar a “Barbie para garotos”, Stan Weston resolveu propor à Hasbro a criação de uma linha de bonecos para meninos, que seguiria padrões militares. A proposta, que foi rejeitada por Merrill Hassenfeld, fez os olhos de Don Levine brilharem, o que acabou garantindo a criação de uma linha Falcon de bonecos militares, que posteriormente ficaram conhecidos como G.I. Joe (Comandos em Ação) e lançaram o conceito de Figuras de Ação. Passando pela história da linha, que sucumbiu durante a Guerra do Vietnã (quando a população passou a rejeitar bonecos de guerra) e teve que se renovar, e por toda a história da empresa que quase faliu na década de 70. A trama conta com os dias que Star Wars se tornou parte da Hasbro e o quanto a eleição de Ronald Reagan e a chegada de Bob Prupish na empresa foram a chave para a ignição do desfio que trouxe os G.I. Joe de volta para o mercado durante a gestão de Stephen Hassenfeld.

De forma estupenda, com um roteiro carnal e dramatizações contagiantes, The Toys That Made Us alcança seu maior ápice ao nos mostrar, de forma leve, um documentário sobre infância, mercado financeiro, marketing, brinquedos, ideias e, principalmente, memórias. A cada episódio vamos tendo uma visão imparcial da história, mostrando os segredos obscuros do passado de cada brinquedo, suas origens inovadores e desafiadoras, suas derrocadas assustadoras, seus altos e baixos, seus renascimentos e suas revitalizações. A criação de Brian Volk-Weiss conseguiu, em poucos episódios, criar um material tão forte e interessante que garantiu uma segunda parte, com mais quatro episódios, antes da estreia dos quatro primeiros, garantindo que a formula de Volk pudesse explorar ainda mais brinquedos que marcaram a infância de tantas pessoas e, por acidente, acabaram marcando o mercado dos brinquedos de forma permanente.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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