Review | Trickster [Season 1]

Nota
4

“Você me viu, isso só pode significar uma coisa: você é filho do Wade”

Jared é um típico adolescente canadense descendente de indígenas, ele vive com sua mãe louca, Maggie, que vive a vida como se não houvesse amanhã e tem surtos de esquizofrenia de vez em quando, lutando para ter uma vida normal, manter sua família longe das dividas e vender as drogas, que ele mesmo fabrica, para se bancar, mas tudo vira de cabeça para baixo quando Wade ressurge em sua vida. Um antigo amigo de sua mãe que desapareceu de uma forma misteriosa, Wade é um Trapaceiro, uma lendária raça de entidades metamorfas, e é o pai de Jared, ele está sendo caçado pelos Anciões, outra lendária raça da cultura indígena, e acaba tendo uma grata surpresa ao descobrir que Wade teve um filho com Maggie, que é uma das últimas sobreviventes da linhagem das Bruxas.

Criado por Tony Elliott e Michelle Latimer,  a primeira temporada da série é uma adaptação de Son of a Trickster, primeiro livro da trilogia coming of age de Eden Robinson, e parecia trazer uma bela homenagem à cultura ameríndia, o que garantiu um grande sucesso do show na CBC. Originário da mão de duas grandes mulheres descendentes de ameríndios, o show logo chamou a atenção por sua representatividade e, logo depois, por sua premissa: um garoto que é o mestiço de duas raças sobrenaturais e, ao mesmo tempo que lida com os problemas de sua adolescência, precisa aprender sobre seus dons e os perigos em torno de sua existência. O show começa nos apresentando pequenos eventos estranhos atrapalhando a, já bagunçada, vida de Jared, mas tudo começa a se intensificar ao ponto de se tornar um choque épico de magia, monstros e caos.

Prometendo ser uma intrigante história de humor sombrio adulto, Trickster sabe se manter como um thriller sobrenatural baseado em romances best-seller, mas parece não saber se manter com um fluxo preciso de enredo. O trabalho de Joel Oulette é morno, ele protagoniza o show de uma forma confusa e não consegue nos cativar muito com seus dilemas, ele não consegue trazer a força de seu protagonismo, mesmo que o roteiro construa um cenário envolvente ao seu redor. Crystle Lightning vive Maggie de uma forma inesperada, temos três fases na evolução da personagem, temos a Maggie louca, que não nos chama atenção e parece uma louca frágil e que não oferece perigo a ninguém além de si mesma, a segunda é a Maggie mãe, a que é capaz de tudo para salvar seu filho e impedir que o seu passado possa traga-lo, e a terceira é a Maggie bruxa, que assume completamente seus poderes e afunda em suas crenças para entrar nessa guerra sobrenatural.

O contraponto da trama fica a cargo de Kalani Queypo, que no papel de Wade consegue nos envolver em sua dualidade, ficamos sem saber ao certo se ele é bom ou mau, ficamos sem saber se ele realmente quer ajudar seu filho ou prejudica-lo, a trama parece nos jogar de um lado para o outro para tentar nos deixar perdidos. Essa sensação ainda tem a cooperação de Gail Maurice, que no papel de Georgina assume o posto da líder dos Anciões, cheia de mistério e com uma aparência de colocar medo em qualquer um, ela carrega inúmeros segredos capazes de mudar completamente o rumo da trama, e é justamente sua presença que serve para mexer bastante no enredo e na evolução dos personagens, ainda que a série seja confusa quando apresenta a mitologia da série.

Apesar de confuso e de ter trilhado um caminho tortuoso, o show consegue ser bem preciso e instigante nos seus seis episódios de cerca de 40 minutos, mesmo que não tenha uma mitologia muito bem desenvolvida. Há muito o que evoluir e melhorar, mas a esperança de uma segunda temporada era suficiente para deixar seu público a espera de um enredo redentor para o show, capaz de ir mais fundo na mitologia e de criar uma renovação nos seus pontos fortes e uma correção em seus pontos fracos, mas tudo foi por agua a baixo por conta de Michelle Latimer. Latimer se envolveu em uma enorme polêmica ao mentir sobre suas origens, dizendo ser uma descendente de ameríndio, o que aumentou bastante a expectativa sobre a série, para que depois fosse revelado que era tudo mentira, o que fez a série perder a maioria de seus produtores, perder o apoio da autora dos livros e, consequentemente, ser cancelada pouco tempo depois de garantir sua renovação para uma segunda temporada.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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