Nota
A combinação de caos, violência estilizada e humor ácido tem seu auge em um mundo pós-apocalíptico, onde as rodovias se tornam arenas mortais e a sobrevivência é conquistada na ponta do acelerador. É nesse ambiente selvagem que uma narrativa ousada e imprevisível se desenrola, proporcionando uma experiência que equilibra adrenalina e insanidade com toques surpreendentes de emoção.
Inspirada na icônica franquia de videogames, Twisted Metal apresenta uma jornada de ação frenética e personagens marcantes. A série acompanha John Doe (Anthony Mackie), um entregador com amnésia que recebe a missão de transportar um pacote misterioso por um território dominado pela brutalidade. Durante o caminho, ele cruza o caminho de Quiet (Stephanie Beatriz), uma mulher tão habilidosa quanto reservada, que traz consigo mistérios tão intrigantes quanto sua personalidade. Juntos, enfrentam desafios mortais, cruzando caminhos com figuras excêntricas e perigosas.
A performance de Anthony Mackie é um dos maiores trunfos da série. Seu John Doe é cativante, trazendo humanidade e vulnerabilidade a um protagonista que poderia facilmente ser reduzido a um clichê. Stephanie Beatriz também entrega uma atuação sólida, imprimindo intensidade e charme em sua personagem. Porém, é Sweet Tooth quem rouba as cenas. O icônico palhaço assassino interpretado pela combinação de Will Arnett (voz) e Samoa Joe (presença física). Juntos, os dois criam uma figura que é ao mesmo tempo aterrorizante e absurdamente cativante, roubando a cena em cada aparição com sua imprevisibilidade e humor sombrio.
Um ponto forte da adaptação é como ela abraça o espírito dos jogos sem se prender demais a eles. A série aproveita o formato episódico para expandir o universo narrativo e dar mais tempo de tela a personagens secundários, como o hilário e sarcástico Agente Stone (Thomas Haden Church). Apesar disso, algumas subtramas podem parecer desconectadas do arco principal, o que pode frustrar espectadores em busca de uma narrativa mais coesa.
A primeira temporada de Twisted Metal não só entrega uma experiência eletrizante para os fãs de ação, mas também presenteia os aficionados pela franquia com uma série de easter eggs que servem como verdadeiras homenagens aos jogos originais. Desde detalhes sutis nos veículos até referências diretas a personagens icônicos e frases marcantes, a série acerta em manter a essência do material de origem. Os fãs mais atentos reconhecerão itens como o design das armas utilizadas por Sweet Tooth e o estilo inconfundível de alguns dos cenários, remetendo aos mapas caóticos dos videogames. A trilha sonora merece um destaque especial. Repleta de hits nostálgicos e escolhas musicais inesperadas, ela dá o tom perfeito para cada cena, seja para intensificar uma perseguição mortal ou para pontuar momentos de humor.
Além disso, o final da temporada não só amarra de forma satisfatória os eventos apresentados, mas também prepara o terreno para o que está por vir. O gancho para a segunda temporada promete expandir ainda mais o universo de Twisted Metal, introduzindo novos desafios e personagens que enriquecerão a trama. A confirmação de que a próxima temporada já está em produção dá aos fãs motivos para especular sobre o retorno de figuras icônicas dos jogos e como a narrativa seguirá crescendo em escala e intensidade.
Twisted Metal é, acima de tudo, uma celebração do caos. Embora não seja uma experiência perfeita, ela captura a essência anárquica e imprevisível dos jogos, ao mesmo tempo em que se arrisca a contar uma história com coração. Para os fãs da franquia e para os amantes de ação irreverente, esta adaptação oferece algo raro: um passeio explosivo e inesquecível por estradas que desafiam a lógica e os limites da sanidade.
Victor Freitas
Pernambucano, jogador de RPG, pesquisador nas áreas de gênero, diversidade e bioética, comentarista no X, fã incontestável de Junji Ito e Naoki Urasawa. Ah, também sou advogado e me arrisco como crítico nas horas vagas.