Review | Watchmen [Season 1]

Nota
5

“Pois estou nessa… até o fim. Tic-tac.”

O mundo não é mais o mesmo. Após o ataque da lula gigante alienígena à cidade de Nova York, antigos rivais tornam-se aliados para combater um inimigo em comum, encerrando a ameaça do holocausto nuclear mas dizimando milhões de mortes e deixando um medo permanente naqueles que ficaram.

Trinta e quatro anos depois, na cidade de Tusla, Oklahoma, um grupo de supremacia branca denominados Sétima Kavalaria se inspira nos escritos e imagens deixados por Rorschach para instigar uma guerra violenta contra as minorias e a polícia, que se esforça para reparar erros históricos sofridos pelas vitimas de injustiças sociais. Entre os policiais, se encontra Angela Abar (Regina King), uma das poucas sobreviventes da terrível Noite Branca, onde 40 oficiais conhecidos pela população foram brutalmente assassinados em suas casas na véspera de natal.

Com sua identidade em risco, Angela decide aposentar seu distintivo e assumir o manto de Irmã Noite, o que permite que ela possa agir em conjunto com a policia local sem revelar sua identidade. Com a reforma sofrida pelo atentado e novas leis em vigor, a força policial passou a usar máscaras e aceitar agentes fantasiados em sua força tarefa, diminuindo o crime e se tornando exemplo nacional. O problema começa quando o velho Xerife Judd Crawford (Don Johnson) é brutalmente assassinado por um homem que revela a Angela segredos obscuros sobre seu passado e o misterioso amigo que um dia admirou.

Idealizada como uma minissérie, Watchmen segue a linha narrativa mostrada nos quadrinhos, demostrando as consequências devastadoras de uma sociedade assombrada pelo ataque interdimensional orquestrado por Ozymadias. Uma sociedade que nunca chegou a desenvolver avanços tecnológicos que são tão comuns no nosso mundo, por acharem que parte do ataque ocorreu por conta deles, causando certa estranheza no início mas conduzindo bem com seu contexto.

A serie tem uma trama tão bem pensada, que consegue nos reintroduzir ao universo que já conhecemos ao mesmo tempo que constrói novos personagens, dilemas e questionamentos. Os antigos protagonistas são reapresentados, os novos são chamativos e sua problemática se torna ainda mais latente nas discussões atuais. Tudo aqui parece minimamente calculado e, assim como a obra original, essa retorno se mostra um espelho da sociedade atual. A versão de Damon Lindelof deixa de lado a guerra ideológica entre Estádios Unidos e União Soviética para apresentar um conflito mais atual, repleto de uma carga emocional e precisa: o conflito racial.

A primeira cena a termos contato é o massacre real ocorrido em Tulsa, em 1921. O choque de algo tão brutal, por muitos anos censurado e omitido da historia americana, nos pega desprevenidos e nos desnorteia, mas contextualiza a abordagem que a segue deve seguir. Mas é exatamente aí que mora o brilhantismo da obra, que utiliza a discussão política atual para discutir retratos incômodos e indigestos.

Absorvendo com maestria o cinismo e as críticas do material original, Lindelof utiliza sua base para alavancar seu enredo, que evita as armadilhas clichês tão utilizadas nesse tipo de reinvenção, mostrando alguém que referencia a HQ mas está disposto a construir sua própria jornada.

O showrunner não só representa seu universo mas o expande, trazendo representações coesas para pessoas (ou super-seres) que passaram por todos aqueles eventos. Seus questionamentos, traumas e conflitos são sublimes, construindo um arco narrativo digno de nota que não só aprofunda suas personas como releem suas perspectivas peculiares sobre os eventos.

Angela assume seu traje para lidar com seus traumas passados, herdando camadas de abusos e solidão que formam uma complexa teia narrativa. A cada nova virada do enredo, ela precisa lidar ainda mais com aquilo que não consegue ver, pautando sua batalha contra o racismo da Kavalaria, mas sem visualizar a raiz do problema. A interpretação de Regina King chega a ser hipnótica, trazendo toda a raiva e determinação presentes no cerne de sua personagem, que usa esses artifícios para esconder suas dores pessoais e seu medo de conhecer detalhes sombrios daqueles que estão próximos.

Algo que se reflete no brilhante Looking Glass (Tim Blake Nelson), um detetive obcecado pela verdades nas palavras que esconde de si mesmo a dura realidade em que esta inserido. É estonteante o quanto ele é capaz de refletir ao próximo mas nunca encarar a si mesmo para perceber o real problema.

Laure Blake (Jean Smart) retorna ainda mais endurecida e calejada. Seus dias como vigilante trouxeram uma frieza profunda de alguém que não precisa mais se esconder atrás das roupas chamativas para fazer aquilo que precisa, mas que consegue entender o que é estar do outro lado. Sua persona entra em contraste com a de Angela, trazendo conflitos interessantes e explorando bem os dilemas de cada uma.

Ozymadias (Jeremy Irons) encara as consequências de seus atos enquanto tenta escapar de seu paraíso sem perder sua arrogância e prepotência. O arco gerado para o homem mais inteligente do mundo tem um papel crucial para o desenvolvimento da trama, embora soe paralelo a primeira vista. Irons se entrega ao cartunesco personagem, se divertindo com o papel enquanto abraça o ridículo ali proposto.

A direção visual é algo surreal, trazendo um aprofundamento crível ao show televisivo. Com um ritmo narrativo bem marcado, que consegue explorar cada uma das viradas grandiosas do roteiro, a trama consegue se aprimorar a cada novo episódio. A trilha sonora impecável ainda constrói momentos memoráveis que engrandecem a trama e nos mergulham nos sentimentos mistos aqui construídos. Um verdadeiro deleite visual e sonoro que merece ser apreciado a cada segundo.
Magnifica em tudo que se propõe, Watchmen não tem medo de referenciar a obra-prima de Moore e Gibbons e ainda assim construir seu próprio caminho.

Colocando o dedo na ferida e trazendo a tona discussões necessárias, a série nos faz refletir e indagar enquanto nos maravilha com sua produção impecável. A verdade é que ela foi uma continuação digna da jornada iniciada nos quadrinhos, nos mostrando que a pergunta não é quando o mundo vai acabar, mas quem vai se levantar para tentar tomar o poder sobre ele dessa vez e como o controle da história pode ser tão perigoso quanto qualquer arma criada.

 

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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