Nota
“O amor me deixou cego. E agora, o amor virou veneno.”
Joe viveu seu pior lado depois de conhecer Beck. O jovem atendente de livraria se apaixonou, criou uma obsessão, matou as pessoas que surgiram em seu caminho e, quando Beck finalmente percebeu no que tinha se metido, matou a garota que amava. Mas a morte de Beck trouxe diversas consequências em sua vida, a primeira delas foi a volta de Candace, a sua ex namorada que sabe seus segredos e põe em risco seu bem-estar, e uma fuga desesperada para Los Angeles, onde ele se torna Will Bettelheim, um novo homem, numa nova cidade, com um novo amor.
Joe/Will acaba conhecendo Love Quinn, que trabalha na cozinha do Anavrin e logo se envolve com o perigoso rapaz, sem saber no que se meteu, logo se tornando namorada de um homem criado para ser o namorado perfeito de Love, logo se tornando a nova obsessão do psicopata que conhecemos na primeira temporada, fazendo Joe/Will garantir imediatamente um emprego na livraria do mercado para se aproximar da garota. Junto com a nova temporada, temos novos personagens que interferem no rumo da vida e do relacionamento de Joe/Will e Love, temos a representação da diversidade nos amigos de Love – Lucy Sprecher, Sunrise Darshan Cummings e Gabe Miranda -, a cumplicidade de um sidekick que surge através da inocente Ellie, a força feminina que existe em Delilah Alves, a loucura bipolar que existe no verdadeiro Will, a babaquice típica dos mauricinhos californianos e que permeia Forty Quinn.
A nova temporada começa brincando com as semelhanças e diferenças do ano anterior, nos deixando sempre em dúvida sobre as verdadeiras intenções de Joe/Will, sobre o quanto ele está disposto a mudar, mas acima de tudo, a nova temporada mostra o quanto o rastro de assassinatos segue o Joe e o quanto ele nunca vai mudar. Aos poucos temos os flashbacks surgindo, mostrando a infância de Joe e os traumas que o garotinho viveu, mostrando sobre a conversa entre Joe e Candace após a morte de Beck, e mostrando sobre o que aconteceu com Candace, sobre quando Joe tentou matar a jovem e como ela sobreviveu.
É incrível como a série de Greg Berlanti e Sera Gamble consegue nos envolver de uma forma surpreendente em seus 10 episódios, aos poucos vamos sendo atraídos pelo joguinho de Joe/Will, e vemos o quanto Penn Badgley está evoluindo nesse papel, nos levando a ver cada vez mais o lado obscuro do homem ao mesmo tempo que uma fagulha de luz começa a brilhar dentro de seu ser. Joe/Will pode ser um psicopata, mas aos poucos ele parece obter consciência quando começa a tentar proteger Ellie de um predador sexual ou quando começa a ter pena do verdadeiro Will, mesmo que ele aja criminosamente para fazer o bem, ele parece estar lutando para ser uma boa pessoa.
Victoria Pedretti é outro destaque no elenco, Love é complexa de se ler, nós nos sentimos como Joe/Will ao tentar entender quem ela realmente é, mas logo percebemos que há segredos por trás da moça e que ela pode não ser tão parecida com Beck quanto achávamos. Quem também chama atenção é Ambyr Childers, que mesmo com pouco tempo de tela consegue adicionar camadas e perigos à personalidade de Candace, nos fazendo tremer com os embates psicológicos que acontecem entre ela e Joe. Candace sabe os segredos de Joe, Candace sabe o que Will fez com Beck, mas Candace não quer manda Joe para cadeia, ela quer fazer algo bem pior, ele quer destruir Joe da mesma forma que Joe a destruiu quando tentou mata-la.
A segunda temporada do show parece querer largar a base que a primeira temporada tinha em Você e seguir seu caminho repaginando a trama de Corpos Ocultos. O segundo livro de Caroline Kepnes mostra Joe seguindo Amy Adams a Los Angeles, para recuperar algo que é seu, mas acabando por se apaixonar e se envolver com uma mulher que começa a transforma-lo, fazendo Joe se tornar mais humano e menos psicótico, mas a série da Netflix não podia perder seu diamante. No show, Joe está em Los Angeles para fugir de Candace e Amy Adams se torna uma outra pessoa, que não é menos importante do que no livro. Mas acima de tudo, Joe, que se torna Will, ao conhecer Love parece não se curar por ela, ele começa a se torna uma versão aprimorada de si mesmo e nos leva a questionar: Será que o amor realmente pode mudar qualquer pessoa?
Joe é uma figura única, e You é uma série singular, tudo nos leva às intermináveis polemicas por traz da série. Polêmicas justas e que, por incrível que pareça, estão se tornando cada vez menos relevantes. A segunda temporada da série muda completamente o rumo que estávamos preparados para ver, ela investe pesado nos plot twists e nos leva a um desfecho surpreendentemente arrepiante, nos levando a perceber que não estávamos preparados para ver a releitura que os showrunners decidiram contar, e nos mostrar que é possivel mudar completa o centro narrativo da trama e mesmo assim elevar Joe a um novo patamar de sociopatia, é possivel levar a série a, ao mesmo tempo que nos mostrar as origens do problema de Joe, nos arrastar para novos rumos que culminam num gancho surpreendente, que nos deixa a espera de uma inesperada (e ainda não confirmada) terceira temporada.
“O amor me levou a lugares sombrios, mas Los Angeles é o mais sombrio de todos.”
Icaro Augusto
Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.