Host Indica | Piteco: Ingá

“Esse seria o momento exato de conhecer o nosso destino […] Na pedra do Ingá, está escrita a nossa salvação.”

Um evento marcante acaba de acontecer em Lem, quando o rio secou e a pedra do Ingá se revelou, uma mensagem dos antigos deu a esse povo a missão de migrar para outro lugar, um lugar onde os moradores dessa aldeia pudessem encontrar água e refazer suas plantações, mas um dos guerreiros de Lem precisa ficar para trás. Durante a noite antes da partida, os adoradores do Deus-Tigre surgiram na aldeia para buscar uma oferenda: aquela que vê do alto e carrega os olhos ocos da águia, que vê o futuro e fala com os antigos, aquela que é conhecida como Thuga, o amor de Piteco.

Cabe agora ao jovem caçador de Lem sair em busca de salvar sua amada, deixando para trás seu povo em migração e se unindo ao seu amigo, Beleléu, em direção aos Homens-Tigres, que sequestraram sua amada e a levavam para o Vale da Morte de Ur. Piteco acaba se envolvendo numa aventura sem limites, que trilha por perigos inimagináveis e referencias cativantes, tudo isso ao mesmo tempo que acaba colocando o caçador frente a frente com seres fantásticos amalgamados das crenças indígenas, como a M-Buantan, A Senhora dos Charcos (inspirada no Boitatá), e o Arapó-Paco, O Deus das Matas (inspirado no Caipora), cruzando com as Aves do Terror (que parece uma referencia às teorias de que os dinossauros possuíam penas), o Camazotz (mítico morcego dos Andes) e o Anhanguera (a raça de pterodátilos que vivam no Brasil), e completando tudo com a clara referencia aos adoradores de Tezcatlipoca, introduzindo traços de inspiração na mitologia Asteca com a aparição dos Homens-Tigres, e à pedra do Ingá, um monumento arqueológico encontrado no agreste da Paraíba.

A trama é estupenda, e tudo graças ao maravilhoso roteiro de Shiko, que consegue dosar de forma excelente a brasilidade dos personagens com pitadas de globalização, o que faz uma trama completamente inspirada em oralidades latinas se tornar algo tão poderoso que poderia facilmente figurar entre tantos outros quadrinhos prontos para serem adaptados por Hollywood. Fica claro o quanto Shiko quis elevar o poder feminino em seu enredo, com uma aldeia sendo guiado por uma anciã, uma história narrada por Thuga, que exala força ao encarar seus sequestradores, e, principalmente, demonstrando que a maior força bruta da trama é da guerreira Ogra, uma mulher. O autor consegue um ótimo equilíbrio ao grupo, temos a sagacidade de Piteco, que ajuda a rastrear os sequestradores, a inteligencia de Beleléu, que ajuda o grupo a se safar usando seus truques, e toda a força bruta nas mãos de Ogra, algo tão raro que nos surpreende e nos anima.

Ingá usa inspirações nordestinas, lendas brasileiras e a história nacional para criar um roteiro pitoresco que nos faz imergir nas possibilidades da idade da pedra brasileira, que nos faz querer conhecem Lem, Ur e até a cidade dos Homens-Tigres, principalmente pela forma como as ilustrações do próprio Shiko fazem cada tribo ter suas particularidades, serem tão diferentes, e não parecerem ter sido originadas de uma mesma aldeia, explorando novas facetas para personagens que já figuravam as histórias clássicas do Piteco, e fazendo jus em ter ganho o 26º Troféu HQ Mix na categoria “melhor publicação de aventura / terror / ficção”.

“Aqui nós plantamos sementes novas e desejos muito antigos, amamos e fomos felizes.”

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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