Crítica | A Bruxa (The Witch)

Nota
5

“Wouldst thou like to live deloviously?”

Após serem banidos da colônia em que viviam, na Nova Inglaterra do Séc. XVI, os puritanos Will (Ralph Ineson) e Katherine (Kate Dickie) partem com seus filhos para um lugar longínquo, onde pretendem reconstruir sua vida. A beira de uma floresta, eles constroem uma fazenda simples que parece um lugar ideal para recomeçar, mas logo se percebe que algo sombrio habita o lugar.

Tudo começa quando a filha mais velha do casal, Thomasin (Anya Taylor-Joy), perde o seu irmão recém-nascido de forma inexplicável, causando uma tormenta sem igual na família, que veladamente a culpa pela tragédia. A cada novo evento, uma histeria coletiva toma conta da família que, enquanto tenta sobreviver em meio ao sofrimento, encontra uma única culpada para descarregar sua raiva: Thomasin. Enquanto tenta entender o que realmente está acontecendo e provar sua inocência perante a família, a primogênita encara com assombro o destroçamento de seu lar e o despertar do pior lado daqueles que um dia amou.

Não é surpresa que uma nova safra de clássicos do terror vem surgindo nos últimos anos. Filmes autorais, que fogem da fórmula mainstream e entregam algo mais visceral e repleto de nuances, tão diferente do consumível do grande público e dando uma nova vida ao gênero. E, não por acaso, tais obras vem pelas mãos de estreantes no cenário cinematográfico. Diretores determinados a colocar sua marca e explorar algo inovador que os antigos blockbusters nunca procuraram.

Dirigido e roteirizado por Robert Eggers, A Bruxa se baseia em acontecimentos reais trazendo uma leitura macabra sobre um dos momentos mais sombrios dos Estados Unidos. E engana-se quem acha que é um caso bizarro sem explicação, mas todo um período histórico onde surtos coletivos aconteciam a ponto de queimarem pessoas na fogueira por bruxaria.

Antes de mais nada é preciso falar que o longa é um filme assustador e claustrofóbico, mas está longe de utilizar jumpscares a cada cinco minutos para assustar seu público. A obra investe em um terror psicológico, que vem sendo construído aos poucos a ponto de nos deixar afundados na cadeira com toda sua estranheza e escuridão. O longa toma seu tempo, constrói seu simbolismo e nos imerge em seus acontecimentos.

A começar pela atmosfera do filme, que utiliza de uma fotografia escura e dessaturada que ganha novas camadas conforme a trama entra em uma espiral obscura. O longa utiliza com maestria a iluminação local, nos mergulhando de cabeça no negrume e acentuando ainda mais a claustrofobia de seus cenários. Até a aparente liberdade da floresta, que cerca a Fazenda, parece opressora e aterrorizante, como algo ancestral que só está esperando o momento certo para acabar com a frágil estrutura da construção recém-estabilizada.

Estranheza essa que se expande nos personagens, nos causando estranhamento desde o primeiro minuto. Thomasin tem em suas primeiras falas no longa um pedido de desculpas pelos seus pecados, o que entra em contraste com a pureza crescente que a personagem demonstra no desenrolar da trama.

Boa parte do clima asfixiante da trama se deve às constantes acusações que a família faz à garota, mesmo eles tendo atitudes estranhas por boa parte do longa. Não é a toa a cena bizarra dos gêmeos cantando uma música macabra para o bode da família, ou a insistente proteção da mãe com todos os filhos, menos a primogênita. Tudo nos é mostrando para que tornemos partido e nos sintamos oprimidos e acuados junto com a protagonista. O filme vai nos cozinhando aos poucos, misturando os elementos até que seu ápice esteja pronto e nos arrebate de uma forma única e poderosa. A cena da revelação final é memorável, assim como o toda a sequência que encerra a história nos deixando estarrecidos e repletos de uma amedrontadora libertação.

Repleto de angústia e mesclando o terror psicológico com o sobrenatural, A Bruxa mostra um futuro promissor de um cineasta que tem muito o que contar. Com uma precisão cirúrgica, Robert nos conquista e nos convida a viver em sua história que, mesmo após os créditos, não nos larga de maneira nenhuma e permanece conosco até nas horas mais iluminadas do dia. Um verdadeiro espetáculo que merece ser apreciado.

“Black Phillip, Black Phillip, a crown grows out his head.
Black Phillip, Black Phillip, to nanny queen is wed.
Jump to the fence post. Running in the stall.
Black Phillip, Black Phillip, king of all.”

 

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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