Review | Infinity Train [Book 1]

Nota
4.5

“- Você é minha mãe?
– Não
– Então veio me libertar dessa triste vida?”

Tulip Olsen é uma jovem programadora amadora de 12 anos, ela ainda está lutando para aceitar o recente divórcio de seus pais e está prestes a ir em um acampamentos de design de jogos em Oshkosh, uma viagem que acaba sendo cancelada por conta dos desencontros da agenda de seus pais. Depois de brigar com sua mãe e ficar com raiva de seu pai, Tulip foge no meio da noite para tentar ir para Oshkosh, o que a leva até uma estação de trem no meio da floresta, onde um trem misterioso surge e ela embarca. Dentro do veiculo, Tulip percebe que está aprisionada em um novo mundo paralelo, um trem mágico onde cada vagão é uma dimensão diferente e onde ela acaba conhecendo o robozinho One-One, um androide com duas personalidades, e o cãozinho Atticus, o rei da Corginia que uniu os Cardigans e os Pembrokes.

Criada por Owen Dennis em 2010, a produção, que originalmente seria um filme, ganhou seu piloto em forma de curta-metragem em novembro de 2016, onde víamos uma jovem garota, a Tulip, explorando o trem infinito e resolvendo quebra-cabeças, até chegar em um mundo cheio de Corgis e enfrentar a maligna Comissário ao lado do Rei Atticus, um enredo que acabou sendo remodelado e relançado como “The Corgi Car”, terceiro episódio da temporada. Devido a positiva repercussão que a premissa do curta teve, a Cartoon Network anunciou, em 11 de março de 2018, que o curta seria transformado em uma minissérie de dez episódios, com cerca de 10 minutos cada, a ser lançada em 5 de agosto de 2019. Em busca de renovar a expectativa com a série, em 20 de julho de 2019, durante a sua participação na San Diego Comic Con, a Cartoon fez uma pré-estreia do primeiro episódio da minissérie e o reexibiu no mesmo dia em uma transmissão ao-vivo pelo Youtube. No Brasil, a série foi disponibilizada, legendada, no YouTube através de transmissão ao-vivo no dia 26 de agosto e estreou, para exibição televisiva e dublada, em 4 de novembro de 2019.

Com uma mitologia muito bem construída, a série foge do obvio infantil e explora camadas mais misteriosas e densas na trama, seguindo os passos dos sucessos de Hora da Aventura Steven Universo, principalmente na história de seus protagonistas e antagonistas. Logo de cara somos apresentados à vida de Tulip, que tem muitos dilemas mal resolvidos e, através do trem, acaba fazendo uma viagem transformadora através de seus medos e defeitos, o trem a ajuda a enxergar mais claramente tudo o que ela ignorava no passado, tendo inclusive um momento onde ela lembra de detalhes da relação de seus pais que deixam evidentes os sinais de que eles viviam um casamento prestes a ruir. Se o divorcio dos pais destruiu o mundo de Tulip, o trem a faz encarar os destroços e enxergar a beleza por trás deles, a fazendo amadurecer de uma forma necessária e a transformando numa pessoa melhor. One-One é o grande mistério desde o inicio do show, ele está perdido em um dos vagões e precisa de Tulip para enxergar sua jornada, a busca por sua mãe. One-One é formado por dois One, ou duas personalidades, que conseguem até se dividir em dois androides semiesféricos, o que torna seus diálogos ainda melhores e mais, o Glad-One é sempre eufórico e positivo, vendo graça em tudo e tendo esperança e confiança em todos, já o Sad-One é o lado pessimista e depressivo do androide, ele está sempre esperando o pior do destino, vendo o pior das pessoas e sendo duramente cruel com suas palavras.

No lado oposto da moeda estão a Comissário, uma gigantesca robô cheia de tentáculos que nos deixa extremamente curiosos sobre sua função no Trem, ela não fala muitas coisas mas interage com os protagonistas em momentos chaves para nos deixar mais vidrados no show, sendo até a responsável por nos apresentar ao seu misterioso chefe. A pessoa por trás da Comissário é tão densa e cheia de camadas como Tulip, a revelação de sua identidade é um momento crucial para o enredo, a explicação de suas motivações muda completamente nossa visão, e sua evolução, apesar de rápida e abrupta, é eficiente para concluir todo o arco, nos trazendo informações preciosas e um desfecho prazeroso. A Gata proporciona uma dualidade confortável, a esperteza da felina parece a colocar num status de superioridade que sobe sua cabeça, o que a transforma numa vilã falha, numa vilã pronta para ser descontruída e nos cativar quando menos esperamos, fica claro que ela não é a grande vilã do show, e no momento certo suas motivações são reveladas, nos fazendo rever nossos conceitos sobre ela. O Trem é outro grande personagem antagonista, ele é cheio de mistérios e parece apresentar cada vez mais desafios para Tulip, criando uma atmosfera ainda mais misteriosa por conta do número brilhante que surge na mão da garota, que não acompanha uma explicação e abre a possibilidade de diversas teorias, principalmente de querer entender quem está no controle de tudo isso.

Numa jornada envolvente e cheia de mistérios, Infinity Train nos surpreende ao apresentar uma trama que não achávamos que precisávamos assistir, a história de Tulip é densa e divertida, as personalidades de One-One são a grande cereja do bolo e os mistérios em volta do Maquinista se tornam o catalisador que impulsiona a série. Posteriormente batizada de Livro 1 – A Criança Perene, a minissérie foi convertida em uma primeira temporada para uma série de antologia, que foi renovada em agosto de 2019 para uma segunda temporada. Com uma subtrama praticamente selvagem sustentando um plot cheio de mistérios, o show é uma obra de arte cheia de profundidade emocional, uma combinação rara entre as animações da televisão infantil, nos presenteando com uma narrativa independente, um humor inteligente e belas mensagens sobre amizade e autorreflexão.

“- O que você tá cantando?
– a música de um doido varrido sendo perseguido.”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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