Crítica | O Esquadrão Suicida (The Suicide Squad)

Nota
4.5

“- Então esse é o famoso Esquadrão Suicida?
– Não gostamos muito desse termo”

Qual é a missão suicida planejada por Amanda Waller para hoje? Reunir um grupo de prisioneiros de alta periculosidade como Sanguinário, Pacificador, Capitão Bumerangue, Caça-Ratos 2, Savant, Tubarão-Rei, Blackguard, Javelin, e a maluquinha favorita de todos, Arlequina. Em seguida, armar todos até os dentes e jogá-los (literalmente) na remota ilha Corto Maltese controlada por um ditador e sua equipe de generais.

James Gunn certamente brilhou em sua estreia na DC, o diretor aproveitou bem a oportunidade que teve ouvindo e se adaptando aquilo que os fãs tanto desejavam em Esquadrão Suicida e trouxe uma nova vida ao grupo de vilões. O fato de a Warner ter dado a liberdade total para fazer aquilo que imaginou foi outro fator importante para que o longa pudesse se desenvolver da melhor maneira possível, Gunn usou e abusou de cenas gore sem que isto chegasse a incomodar (afinal o grupo é conhecido por seu alto poder de carnificina), inclusive chocando ao detonar boa parte de seu elenco em menos de meia hora de filme. Em relação à trilha sonora, a fórmula de Guardiões da Galáxia foi repetida, músicas excelentes e extremamente bem colocadas para compor as cenas de forma primorosa, combinando com uma composição de fotografia, ambientação e figurino que completam toda a experiência.

Algo que vale ser ressaltado é que o diretor optou por segmentar o longa em capítulos, intitulando cada parte como se fosse um capítulo de HQs, utilizando parte do cenário para fazer isto, o que torna a experiência ainda mais imersiva para aqueles que acompanham as missões da equipe em sua mídia original. O uso de CGI foi essencial para que tudo pudesse avançar, não só dois personagens e um vilão são criados digitalmente como certas cenas demandaram seu uso para construção de uma atmosfera mais coesa e funcional. O roteiro, mesmo que em certos momentos pareça um caos total, funciona muito bem e possui subtramas interessantes, que tem bom aproveitamento, cada integrante possui desejos, vontades e traumas que carregam consigo e moldam a personalidade com seus toques cruéis, mas sem perder a essência cômica do grupo, cada cena foi pensada e trabalhada para levar a trama a um novo patamar e conduzir tudo para o seu grande ápice.

Margot Robbie segue como Arlequina, a palhaça mais amada de todos os tempos, desta vez funcionando bem em equipe e sem tomar o protagonismo para si, ressaltando não ser um filme da Harley com o Esquadrão, mas sim um filme do grupo como um todo, mas não pense que a personagem perdeu seu brilho, pelo contrário, ela segue forte em sua proposta. É importante destacar a ótima ascensão da personagem, e Gunn optou por dar continuidade no seu processo de emancipação (iniciado em Aves de Rapina), fazendo com que a personagem tenha uma excelente coesão, representando-se também em seus figurinos mais compostos assim como em seu filme anterior, porém sem perder a essência sexy e louca da personagem.

Joel Kinnaman também reprisa seu papel como Rick Flag, desta vez um pouco diferente de quem foi no longa anterior ao não seguir cegamente as ordens que lhe são passadas, mostrando um lado novo de si que possui traumas e um grande senso de justiça, sendo capaz de tudo para defender seus ideais. O personagem também ganha camadas ao encontrar com o Pacificador, que funciona como um contraponto de seu eu anterior e fortalece suas novas convicções.

John Cena nos apresenta o Pacificador, um homem obstinado que é capaz de tudo para obter a paz. O personagem é uma crítica aos ideais estado-unidenses de paz, afinal de contas é a nação que mais invadiu países e se aproveitou de momentos de fragilidade com a desculpa da manutenção da “paz”, e isto fica bem claro já que ele é um dos mais sanguinários da equipe (dentro do Esquadrão isso é um marco) e o ator não só passa isto, como também consegue cativar o ódio do público, reforçando a intensidade e boa atuação de Cena.

Viola Davis mais uma vez entrega aquilo que os fãs já gostavam, mas de uma forma melhorada, Amanda Waller está maligna como nunca e é capaz de fazer tudo para cumprir seus objetivos. A personagem já é conhecida de longa data por seus métodos ortodoxos que beiram a crueldade (não beiram, eles são), e desta vez não é diferente, para trazer o Sanguinário para a equipe ela foi capaz de usar a filha do homem para chantageá-lo, o que os torna forças opostas que lutam por seus diferentes ideais de forma similar. É importante chamar a atenção para a personagem pois, mesmo possuindo pouco tempo de tela, ela consegue gerar indignação e raiva no público assim como sua persona nas HQs.

Idris Elba apresenta em Sanguinário um personagem que une o drama com a comédia de uma maneira primorosa, o drama familiar que ele apresenta é trabalhado durante a trama através de sua relação com a filha e com a Caça Ratos 2. A parte cômica se deve ao fato dele ser escolhido por suas habilidades únicas, porém outros dois personagens fazem exatamente o mesmo que ele, mas acima de tudo ele é selecionado devido à capacidade de liderança que ele acredita não ter. De uma forma geral, o personagem funciona muito bem com a equipe e Elba consegue entregar um ótimo trabalho, ainda mais sendo o líder de uma equipe com personalidades fortes e seguindo ordens diretas da Waller.

O Nanaue, ou simplesmente Tubarão Rei, ganhou vida graças a Steve Agee (atuação corpórea),Sylvester Stallone (voz) e toneladas de CGI, sem sombra de dúvidas roubando a cena. Carismático e engraçado o personagem consegue trazer humanidade para um monstro, cativando assim o público com sua doçura e fofura sem esconder seu lado monstruoso e sanguinário. Possui uma forte relação com a equipe, principalmente com a Caça Ratos 2, que foi a primeira a confiar no grandão e oferecer sua amizade a ele.

Daniela Melchior deu vida a personagem que une a equipe e mais ajuda nas subtramas, a Caça Ratos 2. A atriz portuguesa sem dúvidas conseguiu entregar a proposta não só por contracenar com Ratos reais, como também por entregar uma personagem criada apenas para o filme. Cleo Cazo é filha do Caça Ratos original e tem o sonho de seguir o legado de seu pai, possui uma boa relação com o Sanguinário, o ajudando a compreender melhor sua relação consigo mesmo e com a filha, e vê a bondade no homem mesmo que ele ainda não seja capaz de vê-la. Além disto ela compreende as dificuldades do Nanaue e ajuda o personagem a se entrosar mais com a equipe.

De uma forma geral, Gunn trouxe, em O Esquadrão Suicida, o que há de pior (neste caso melhor) dos quadrinhos para as telas e conseguiu redimir o fracasso de seu antecessor, dando uma nova vida não só ao grupo como também aos personagens individuais, respeitando a história que cada um viveu antes de chegar na trama contada, ampliando e estendendo as personalidades. O Esquadrão Suicida é um filme com total liberdade criativa, que cativa, faz pensar e diverte o público, definitivamente uma fórmula que a Warner precisa repetir para garantir sucesso em suas futuras produções.

“Nhom Nhom”

 

Graduado em Biológicas, antenado no mundo geek, talvez um pouco louco mas somos todos aqui!

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