Crítica | Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis (Shang-Chi and the Legend of the Ten Rings)

Nota
4

“A lenda dos dez anéis vem sendo contada por milhares de anos.”

Há milhares de anos, Xu Wenwu descobriu os dez anéis e se tornou imortal, usando todos os seus poderes para conquistar terras e manipular governos, criando no processo seu exército pessoal, os Dez Anéis. Em 1996, quando percebe já ter conquistado tudo que queria, Wenwu decide iniciar uma busca pela mitológica Ta Lo, uma vila mística onde ele acredita estar o segredo para expandir seu poder, mas ele acaba encontrando em seu caminho Ying Li, a guardião de Ta Lo e a mulher por quem ele se apaixona, levando-o a desistir de Ta Lo e largar os Dez Anéis, e com quem ele tem dois filhos, Shang-Chi e Xialing. Com o passar dos anos, Ying Li é assassinada por uma gangue inimiga, o que leva Wenwu a reassumir o controle dos Dez Anéis, treinar seus filhos como assassinos e jurar vingança. Com medo do que seu pai poderia fazer, Shang, quando recebe uma missão de matar o assassino de sua mãe, foge para San Francisco e muda seu nome para Shaun. O problema é que, anos depois, seu pai o acha e ele acaba sendo puxado de volta para a mística e perigosa vida que ele tanto fugiu.

Fugindo quase que completamente do padrão Marvel, o filme dirigido por Destin Daniel Cretton e co-roteirizado por Cretton, Dave Callaham e Andrew Lanham inicialmente parece completamente desapegado do Universo Cinematográfico Marvel, lembrando muito mais um padrão Disney. Se não fossem as referencias e a presença de alguns personagens do UCM, seria muito fácil acreditar que esse filme não faz parte do universo compartilhado, principalmente por ele abandonar completamente o cenário urbano da Marvel e focar em cenários mais épicos e em uma bela floresta. A batalha de Xu Wenwu e Ying Li é um deslumbrante show coreográfico digno de grandes filmes de wire-fu, lembrando cenas históricas do cinema, como de O Tigre e o Dragão. Fazendo jus ao caráter oriental da trama, o longa se diferencia de muitos blockbusters modernos ao entregar lutas melhor coreografadas do que os, sempre picotados, confrontos construídos por cortes rápidos, que ajudam a esconder os dublês, investindo pesado em lutas empolgantes e dinâmicas que entregam intensidade e adaptabilidade marcial tanto quando a arena é um ringue clandestino, uma série de andaimes ou um ônibus em movimento.

O longa acabou achando em Simu Liu, seu protagonista, uma grata surpresa, com todo o seu carisma (apesar de se envolver em várias polêmicas), que só ajudou no grande trabalho de remodelagem que o filme precisou sofrer. Shang-Chi foi criado por em 1973 por Steve Englehart e Jim Starlin como o filho do déspota asiático Fu Manchu, famoso por reunir todos os estereótipos racistas dos orientais, que tem como grande poder a proficiência das artes marciais e decide se rebelar contra os esquemas malignos do pai. Na busca por fugir dos preconceitos, o filme adicionou ao protagonista um mais jovial e menos caricato e o transformou no filho do lendário líder dos Dez Anéis, o verdadeiro Mandarim que estamos esperando conhecer desde 2013. Outra grande escolha do longa foi levar Shang (ou Shaun) a se tornar um jovem comum em São Francisco, onde conhecemos uma versão mais humilde do personagem e sua conexão com Katy, com quem o personagem acaba criando uma relação divertidíssima e uma deliciosa química em tela. Falando de Katy, não podemos deixar de citar sua interprete, Awkwafina, que é uma das melhores atuações da trama. A atriz possui carisma e talento expansivos, que nos cativa desde sua primeira cena e nos faz ficar apaixonados por Katy, o que pode ter tornado as cenas de Awkwafina e Liu um grande desafio para o ator, que pode até ter um talento de assumir os holofotes, mas precisou de bastante timing para não ser ofuscado pela comicidade intrínseca de sua companheira de cenas.

Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis traz um alto nível em suas cenas de ação e poderia facilmente ser considerada a aventura épica que a Marvel precisava para dar início à fase pós-Ultimato, mas sua história de origem genérica nos faz sentir cada um dos 132 minutos que compõe o longa. Não que isso chegue a ser ruim, mas é o grande obstáculo que impede a produção de ser grandioso como pretendia, desequilibrando com sua direção de arte absurda e seus efeitos visuais lindíssimos, que nos submerge em uma experiência rica ao misturar o fantasioso e o real, dando aquele tempero em meio à tragédia e à incerteza sobre o futuro. A cenografia de Ta Lo mostra que a Marvel sabe onde apostar, nos conquistando através do deslumbre da mesma forma que quando fomos apresentados a Asgard em Thor e a Wakanda em Pantera Negra, emoldurando toda esse beleza com uma boa dose de mitologia chinesa que pode até nos fazer perdoar um pouco das falhas do percurso.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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