Nota
“Tô pobre!”
Se passaram alguns anos desde que Selminha Oléria Silva recebeu uma gigantesca herança de seu tio avô que nunca conheceu, e que nunca a conheceu. Órfã e tendo crescido na pobreza, a riqueza surgiu como virada de ponta cabeça em sua vida, mas aos poucos ela foi se adequando a essa nova vida, sendo sempre humilde e se metendo em grandes enrascadas. Está chegando o momento de Luane, sua melhor amiga, e Nico se casarem, o que levou Selminha a prometer bancar toda a festa, e está chegando o dia da grande Feijoada Anual de Selminha, onde ela sempre gasta sem pensar duas vezes para trazer alegria para sua comunidade, mas um obstáculo surge em seu caminho: Selminha Oléria Silva, uma homônima que vai a justiça reclamar a posse da herança, uma situação que faz com que os bens de Selminha sejam confiscados e ela volte a pobreza até que tudo seja esclarecido.
Depois do sucesso de público que foi o filme de 2016, uma sequência, apesar de desnecessária, era inevitável. Quase seis anos se passaram para, novamente com roteiro de Fil Braz e direção de Pedro Antônio, sermos presenteados com Tô Ryca 2, que se propõe a fazer o caminho inverso de seu antecessor e consegue nos surpreender ao pensar fora da caixa e repetir o humor de classes de forma invertida. O publico já está acostumado a ver filmes onde uma pessoa da classe baixa acaba sendo erguido à riqueza e precisam se adequar a esse novo mundo, foi assim com o primeiro filme e até com as franquias Até que a Sorte nos Separe e Um Suburbano Sortudo, já o humor inverso, de um rico tendo que se acostumar com a vida de pobre, foi pouco desenvolvido, sendo até dificil citar alguma produção notável além Gislaine (de Fabiana Karla) e seu “Isso não te pertence mais!”, que fez parte das esquetes do Zorra Total.
Novamente protagonizado por Samantha Schmütz, o longa acerta em cheio ao deixar a questão da herança em segundo plano, se esmerando muito mais em mostrar a transformação da vida de Selminha quando perde o dinheiro, vemos uma deterioração do padrão de vida da personagem pouco a pouco na tela, e isso é metaforizado brilhantemente por meio de seus cabelos, que estão lisos por conta dos produtos importados que ela usa e começam, pouco a pouco, a ir perdendo o brilho e o controle a medida que a ausência dos produtos vai fazendo efeito. A trama mostra que Selminha é uma mulher humilde, e apesar de ter ficada acostumada ao luxo ela é capaz de pegar no pesado e lutar para se reerguer, mas claro que tudo isso se envolvendo em inúmeras roubadas que só contribuem para o humor do filme. Infelizmente Katiuscia Canoro (Luane), Anderson Di Rizzi (Nico) e Marcelo Mello Jr. (Rubens), que retornam na sequencia, acabam ficando muito mais escanteados que no antecessor, servindo para vários eventos essenciais na nova jornada de Selminha, mas com toda a trama focada muito mais nela.
Os novatos, Evelyn Castro (a outra Selminha Oléria), Rafael Portugal (Grácio) e Erom Cordeiro (César), acabam preenchendo o vácuo que fica no elenco de suporte do longa, com o motorista vivido por Rafael sendo o conselheiro de Selminha em várias situações, o advogado de Erom sendo o porto seguro da ex-rica e a rival vivida por Evelyn sendo o grande suporte, principalmente quando vemos o equilíbrio que surge do contraste entre o humor espalhafatoso de Samantha e o humor contido de Evelyn. Com piadas pontuais envolvendo a situação geral da protagonista e sobre o alto preço das coisas, Tô Ryca 2 consegue ter uma trama melhor do que seu antecessor, nos cativando pela naturalidade que o longa trata assuntos tabu ao mesmo tempo que não toma posição abertamente. Apesar de ter a mesma essência do anterior, o novo filme traz um frescor que equilibra piadas e lição de moral, deixando muito mais espaço para o humor se desenvolver e as risadas rolarem sem tempo para questionamentos ou ‘mimimi’.
Icaro Augusto
Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.
