Crítica | A Fera (Beast)

Nota
3.5

“Múltiplos ataques, sem comer a presa […] Leões não fazem isso”

Dr. Nate Daniels perdeu sua esposa a pouco tempo, e na busca por superar o luto ele decide retornar à África do Sul, onde conheceu sua falecida esposa, para uma viagem de férias com suas duas filhas, Norah e Meredith/Mare, em uma reserva natural administrada por Martin Battles, um velho amigo da família que é biólogo da vida selvagem. Mas a viagem que deveria ser para descanso acaba se transformando num enorme teste de sobrevivência quando, durante um safari, o quarteto acaba com o carro quebrado e preso dentro do território de um monstruoso leão, o único sobrevivente de uma caça sanguinária iniciada por caçadores ilegais, que mataram toda sua manada, e que está disposto a matar qualquer um que cruze com ele durante sua sede de vingança.

Com direção de Baltasar Kormákur, que já possui em seu currículo filmes de ação e sobrevivência, e roteiro de Ryan Engle, que pode não ter sido bem sucedido participando do grupo de roteiristas de Rampage mas é dotado de uma boa bagagem, o novo filme de sobrevivência protagonizado por Idris Elba nasceu com um potencial chamativo e grandes chances de dar errado, mas o resultado acaba superando as expectativas em vários pontos e decepcionando em alguns outros. É impossível não comparar o longa com o consagrado A Sombra E A Escuridão (1996), filme que nos apresenta uma dupla de leões ‘possuídos’ por uma sede de sangue inexplicável e que foi baseado num caso real, que até hoje é circundado de mitos e perguntas, mas A Fera descarta todo o fundo místico e procura trazer explicações mais racionais, que infelizmente não funcionam, para a forma como o leão desenvolve uma inteligência e uma irracionalidade que extrapola os instintos comuns à espécie, talvez seja por isso que a trama, que é rápida, direta e previsível, termine nos levando a um final um tanto quando confuso, onde temos muitos buracos para encarar em meio a um filme que poderia até ter sido uma releitura moderna, e muito mais intensa, do clássico de 96.

O desempenho de Elba é, com toda certeza, o ponto alto do filme, a forma como esse pai em luto se mostra disposto a tudo para proteger suas filhas, o cuidado que ele tem em contraste com a dor que carrega e até a voracidade que ele demonstra ao encarar o leão mano-a-mano diversas vezes para proteger suas filhas, é o que mantem toda o enredo vivo e funcionando, a rivalidade que existe entre homem e leão é a verdadeira história do filme, e cada embate dos dois se torna eletrizante, quase como se o filme se resumisse a eles dois, como se nenhum outro personagem importasse. Sharlto Copley, interprete de Martin, é um apoio necessário para engatar o filme, ele é quem traz as informações iniciais e tem um papel importante num dado momento do filme, mas o personagem se mostra completamente dispensável para a verdadeira história do filme, podendo facilmente ser descartado em qualquer momento. De plano de fundo temos as filhas, Mare e Norah, interpretadas, respectivamente, por Iyana Halley e Leah Jeffries, duas personagens de apoio que tem momentos de tela envolventes, que nos cativam mesmo não sendo o foco do longa e que se mostram extremamente necessária até nos momentos off-screen, deixando claro o quanto suas personagens, apesar de não terem muita importância para o plot principal são essenciais para o funcionamento da produção.

Honesto e intenso, A Fera cumpre o prometido e nos entrega 93 minutos de um leão sanguinário, mas peca em vários momentos ao querer equilibrar um filme de sobrevivência, onde temos um leão num CGI até aceitável, com um drama familiar, que mostra o quanto o leão é respeitoso ao dar uma pausa nos ataques para que o pai e as filhas tenham diálogos emocionalmente carregados. O longa, que claramente não é perfeito, ganha pontos por seus cenários e sua intensidade, ele parece ciente que nasceu para o simples entretenimento para o público, transformando uma jornada de cura e redescobrimento em luta por sobrevivência que traz muitos elementos e esquece de explicar. Incomodo ao extremo, o longa faz uso de cenas de memórias que surgem toda vez que o personagem de Elba está desacordado, mas esquece completamente de ser mais claro com seu enredo e deixa uma explicação rasa para o significado daquelas memórias, que pode facilmente passar batida por alguém menos atento. Em resumo, Idris Elba é o verdadeiro chamariz de A Fera, talvez se não fosse o desejo despertado no publico de vê-lo sobrevivendo a um leão gigantesco, o longa seria apenas mais uma produção lançada direto para os streamings.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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