Nota
“Múltiplos ataques, sem comer a presa […] Leões não fazem isso”
Dr. Nate Daniels perdeu sua esposa a pouco tempo, e na busca por superar o luto ele decide retornar à África do Sul, onde conheceu sua falecida esposa, para uma viagem de férias com suas duas filhas, Norah e Meredith/Mare, em uma reserva natural administrada por Martin Battles, um velho amigo da família que é biólogo da vida selvagem. Mas a viagem que deveria ser para descanso acaba se transformando num enorme teste de sobrevivência quando, durante um safari, o quarteto acaba com o carro quebrado e preso dentro do território de um monstruoso leão, o único sobrevivente de uma caça sanguinária iniciada por caçadores ilegais, que mataram toda sua manada, e que está disposto a matar qualquer um que cruze com ele durante sua sede de vingança.
Com direção de Baltasar Kormákur, que já possui em seu currículo filmes de ação e sobrevivência, e roteiro de Ryan Engle, que pode não ter sido bem sucedido participando do grupo de roteiristas de Rampage mas é dotado de uma boa bagagem, o novo filme de sobrevivência protagonizado por Idris Elba nasceu com um potencial chamativo e grandes chances de dar errado, mas o resultado acaba superando as expectativas em vários pontos e decepcionando em alguns outros. É impossível não comparar o longa com o consagrado A Sombra E A Escuridão (1996), filme que nos apresenta uma dupla de leões ‘possuídos’ por uma sede de sangue inexplicável e que foi baseado num caso real, que até hoje é circundado de mitos e perguntas, mas A Fera descarta todo o fundo místico e procura trazer explicações mais racionais, que infelizmente não funcionam, para a forma como o leão desenvolve uma inteligência e uma irracionalidade que extrapola os instintos comuns à espécie, talvez seja por isso que a trama, que é rápida, direta e previsível, termine nos levando a um final um tanto quando confuso, onde temos muitos buracos para encarar em meio a um filme que poderia até ter sido uma releitura moderna, e muito mais intensa, do clássico de 96.
O desempenho de Elba é, com toda certeza, o ponto alto do filme, a forma como esse pai em luto se mostra disposto a tudo para proteger suas filhas, o cuidado que ele tem em contraste com a dor que carrega e até a voracidade que ele demonstra ao encarar o leão mano-a-mano diversas vezes para proteger suas filhas, é o que mantem toda o enredo vivo e funcionando, a rivalidade que existe entre homem e leão é a verdadeira história do filme, e cada embate dos dois se torna eletrizante, quase como se o filme se resumisse a eles dois, como se nenhum outro personagem importasse. Sharlto Copley, interprete de Martin, é um apoio necessário para engatar o filme, ele é quem traz as informações iniciais e tem um papel importante num dado momento do filme, mas o personagem se mostra completamente dispensável para a verdadeira história do filme, podendo facilmente ser descartado em qualquer momento. De plano de fundo temos as filhas, Mare e Norah, interpretadas, respectivamente, por Iyana Halley e Leah Jeffries, duas personagens de apoio que tem momentos de tela envolventes, que nos cativam mesmo não sendo o foco do longa e que se mostram extremamente necessária até nos momentos off-screen, deixando claro o quanto suas personagens, apesar de não terem muita importância para o plot principal são essenciais para o funcionamento da produção.
Icaro Augusto
Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.