Crítica | Wonka

Nota
4.5

“Hold you breath
Make a wish
Count to three
Come with me and you’ll be
In a world of pure imagination”

Willy Wonka e sua Fantástica Fábrica de Chocolate são marcos do imaginário popular desde sua criação por Roald Dahl em 1964, responsáveis por transportar crianças e adultos para um mundo doce e mágico, repleto das mais incríveis surpresas e ocasionais perigos, capazes de fazer até os mais corajosos sentirem frio na barriga. Seja nos conduzindo a um passeio a bordo de seu Elevador de Vidro ou simplesmente auxiliando a se livrar da sujeira com seu Hasw Aknow, o grandioso chocolateiro e inventor sempre se destacou como uma das mentes mais incríveis que a ficção conseguiu produzir. No entanto, ao mesmo tempo, surge uma questão intrigante: como alguém tão fabuloso surge do nada? Qual é o seu passado e em que momento a fábrica foi construída? Quem é o verdadeiro Willy Wonka? Estas são indagações que Wonka, o novo filme estrelado por Timothée Chalamet (Duna), busca responder.

A Fantástica Fábrica de Chocolate recebeu duas adaptações para o cinema, a primeira em 1971 sendo uma belíssima versão que apresenta a todos a versão icónica do célebre chocolateiro interpretado pelo saudoso Gene Wilder e a segunda de 2005 pelas mãos de Tim Burton e tendo Johnny Depp no papel principal, com toda a extravagância que a dupla sempre se permite utilizar. Essa segunda versão, porém, se deixa ir além do material fonte, tentando dar um passado ao Willy que justifique suas ações e seu “eu” atual, coisa que a primeira versão não faz e que preza justamente pelo mistério que pode ser resolvido na deliciosa prequel lançada. Sim, Wonka se trata de uma prequel correlacionada com a adaptação de 1971, deixando claro desde o início, tanto em seu visual quanto nas músicas, que esse seria o passado do tão adorado Willy Wonka de Gene Wilder, sendo um verdadeiro deleite para quem captar todas as referências.

Logo em sua introdução somos apresentados ao jovem Willy Wonka (Timothée Chalamet), um chocolateiro que viajou o mundo e decidiu se estabelecer em uma cidade conhecida por possuir a mundialmente famosa Galeria Gourmet, local onde as maiores e melhores lojas de chocolate se encontram. Sua intenção é de realizar a promessa feita para sua mãe de abrir a melhor loja de chocolates do mundo no coração daquela que é conhecida justamente pelas melhores lojas, mas que irá encontrar uma série de dificuldades promovidas pelo Cartel do Chocolate que controla tudo através do vício em seus doces e reduzem o prazer e alegria de comer essa iguaria ao mais do mesmo.

A construção da persona de Wonka é mostrada de forma simplesmente, singela e cativante logo que Chalamet abre a boca e começa a cantar, já mostrando toda a energia e potência que surpreende logo de cara. Não se trata de um elogio ao vento e sim a pura constatação de que nos primeiros minutos você acaba sendo totalmente arrebatado pelo que ele transmite para o expectador, seja só com seu olhar, seja com sua canção. Todos os trejeitos e maneirismos são minunciosamente utilizados de forma a vermos ali um Gene Wilder mais jovem, porém sem perder características próprias dessa nova versão apresentada que, não seria nada absurdo de falar, talvez possa ser vista como a versão definitiva desse amado personagem. Timothée Chalamet conseguiu verdadeiramente se tornar um magnífico Willy Wonka – e não seria surpresa caso desejassem fazer uma versão própria de sua Fantástica Fábrica.

Paul King constrói o mundo de fantasia baseado na obra de Dahl através da sua própria visão, sendo extremamente respeitoso ao material que ele deseja homenagear e referenciar, ou seja, a versão de 1971 de A Fantástica Fábrica de Chocolate. Toda a cidade aparenta ser comum e cinza até a chega de Wonka, que desperta todo seu potencial e revela o brilho e magia que ali pode existir no momento em que começa a tirar coisas de sua cartola como o bom mágico que é. Seja na própria Galeria Goumert, no zoológico e até em uma lavanderia suja, tudo consegue ganhar uma nova versão sob o toque inventivo e genial do personagem. Esse é um ponto que precisa ser destacado: o quanto o lado inventor foi explorado no longa, não se focando somente no lado do chocolate, mas sim em toda a inteligência e inventividade de Willy, conseguindo casar perfeitamente e dar um pouco mais de sentido as capacidades de construir todas as suas invenções futuras.

Também é gostoso a forma que personagens que, ao menos para o livro e a primeira adaptação, teriam o mínimo de importância conseguem ser usados aqui, como Arthur Slughworth (Paterson Joseph), que fora ignorado no longa de 2005 e que aqui toma um papel de antagonismo real e presente, mostrando o início do seu rancor por Willy. Sendo um dos Mestres do Chocolate e figura principal entre os vilões do longa, toda a sua engenhosidade e malícia foram muito bem representadas, junto ao tino de comédia e também musical. Mas não tem como falar de vilões sem também mencionar a participação maravilhosa de Olivia Colman como Sra. Scrubbit, dona da pousada e lavanderia Scrubbit e Bleacher, uma golpista carismática e que consegue despertar uma raiva equiparável com os vilões principais.

Ainda é mais que necessário mencionar Calah Lane como a esperta Noodle, aquela que viria a ser a primeira amiga e “sócia” de Willy, lhe ajudando em suas desventuras até o sucesso, além de servir como voz da razão diante do caos fantasioso que Wonka é por natureza, mas ao mesmo tempo sendo ela que precisa de uma luz no fim do túnel para seus próprios problemas. Além disso temos Hugh Grant como um dos Oompa-Loompa, trazendo de volta o visual original descrito nos livros com seus cabelos verdes, estatura baixa e pele laranja. Que personagem maravilhoso, em todos os momentos que aparece consegue ser fantástico e ainda deu o contexto para como começaram a trabalhar na Fábrica, sua relação com música e como se dão com seu chefe.

Nossas menções honrosas ficarão para Keegan-Michael Key como o chefe de polícia corrupto e sinônimo de chocólatra, sendo uma adição divertida para o longa junto a dupla Mathew Bayton e Matt Lucas, respectivamente Fickelgruber e Prodnose, os outros dois Mestres do Chocolate e membros do Cartel. A interação dos três junto ao Slugworth de Parterson Joseph conseguem divertir o público completamente. Rowan Atksinson se torna quase um cameo de luxo mas que consegue ser bem aproveitado com sua veia cômica.

Como bem tinha que ser, o filme se trata de um musical, e nisso Neil Hannon conseguiu encantar tanto quanto Anthony Newley e Leslie Bricusse para o clássico dos anos 70. As músicas originais e readaptações, incluindo da magnífica Pure Imagination, lhe dão um verdadeiro ticket dourado para o mundo encantado que esse filme é, despertando a infância daqueles que já a deixam para trás e renovando a de quem ainda tem toda uma vida para a descobrir, mostrando que não importando quando e onde, tudo o que se precisa é de um pouco da mais pura imaginação.

Essa é a mensagem que Wonka transmite da forma mais pura e singela possível, de que desde que se faça com amor e bondade tudo pode e deve dar certo. Mas com isso só resta dizer que, mesmo sem a intenção, esse é o filme ideal para o mês de Natal, sendo um belíssimo presente para aqueles que forem assistir nas salas de cinema e terem o prazer de imergir completamente nesse mundo doce e completamente viciante.

Pensando bem, podemos dizer, a quem esse filme for ver: há muito a perder e nada a entreter.

Apaga! Inverte! Troque a expressão!

 

Pernambucano, jogador de RPG, pesquisador nas áreas de gênero, diversidade e bioética, comentarista no X, fã incontestável de Junji Ito e Naoki Urasawa. Ah, também sou advogado e me arrisco como crítico nas horas vagas.

Respostas de 3

  1. Ótimo texto, a visão sobre o filme parece interessante. Talvez valha a pena ir no cinema para assistir, obrigada

  2. Parece mais com o segundo na questão de cores e produção, acredito que seja realmente incrível, mesmo com os icônicos laranjas (não gostei tanto do primeiro).

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