Crítica | Spencer

Nota
2.5

A querida e amada Princesa Diana (Kristen Stewart) tem a vida que todas do Reino Unido sempre sonharam, uma jovem de origem humilde que foi parar no palácio de Buckingham, se tornando umas das princesas mais amadas do país e do mundo, e podendo um dia virar rainha. Mas a vida real não é um conto de fadas da Disney e ninguém sabe ao certo o que aconteceu com ela para que, de repente, em 1996, ela se separasse do seu até então marido, Príncipe Charles (Jack Farthing). É nessa premissa de Spencer que o diretor Pablo Larraín promete trazer uma fábula de como ele imagina que a princesa Diana se sentiu naqueles últimos momentos como de fato Princesa.

Acompanhamos a família real em seu natal pacato de 3 dias, mas que para Diana parecia ser uma eternidade. Já angustiada dos holofotes e das regras sem nenhum sentido, que são necessárias para manter as tradições da realeza, ela já não sabe mais o que fazer e tenta ao máximo quebrar as regras para se sentir como uma pessoa normal. Claramente suas tentativas são frustradas sempre, já que a Rainha (Stella Gonet) está sempre de olho, seja com seus subordinados que vão sempre fazer questão que as regras sejam seguidas, ou por ela mesma, que tenta sem sucesso aconselhar a princesa. 

Kristen Stewart, que teve um trabalho extremamente aclamado pelos fãs e por muitos críticos, está realmente muito parecida com Diana, o trabalho de caracterização do filme foi impecável, mas ela também tem o seu mérito por incorporar os maneirismos da princesa. Ela foi definitivamente uma escolha certa para o papel em Spencer, pois por já ser conhecida por não ser tão expressiva, ela consegue transmitir não só a constante angústia da Diana de fingir estar bem quando na verdade não está, e isso foi de fato um ponto muito positivo na sua atuação, mas infelizmente ela não consegue sair disso, já que com o tempo sua atuação fica monótona e em muitas cenas ela não consegue acompanhar os outros atores.

Mas sejamos justos com a Kristen, o enredo de Spencer também não ajuda muito a sua performance, já que a personagem é construída na base de suas alucinações, o que não fica coeso já que a personagem não bebe, nem se droga, então fica quase que uma mensagem da personagem ser louca com as diversas cenas que às vezes parecem jogadas e até confusas. Mesmo sabendo que a intenção era para ser uma fábula sobre uma pessoa real, as cenas não se conectam bem, deixando o meio do filme quase sem nexo, como se apenas o começo e o final do filme conversassem e o desenvolvimento do filme fosse um grande emaranhado de cenas sem sentido. Até porque é entendível o fato de que, por se tratar de uma pessoa real e não sabermos como ela agia por trás dos holofotes, qualquer adaptação dessa personagem seria uma especulação, mas o que não quer dizer que especular os sentimentos de uma pessoa real permite que o diretor jogue cenas muitas vezes desconexas com a justificativa que é o conceito do filme.

Apesar disso, como um bom filme de época, a direção de arte consegue acertar em cheio nos figurinos, fazendo réplicas quase exatas dos figurinos da Rainha e da própria Diana, assim como as locações que são belíssimas e conseguem enriquecer muito mais o filme, fazendo suas quase 2 horas serem mais “fáceis” de assistir. E como nem tudo são flores, especialistas em família real tiveram que se pronunciar sobre o filme, o abominando completamente com suas notas chamando o filme de “Cruel” e “Desnecessário”. Talvez o filme fosse muito melhor se ele tivesse cutucado a família real, seja em apontar as incongruências da realeza com mais seriedade, ou até mesmo falando de polêmicas internas, o que deixaria não só o filme mais interessante como também com críticas mais ricas ao invés de uma pobre especulação de sentimentos.

Com uma tentativa ousada de retratar os sentimentos da amada Princesa Diana, Spencer peca com atuações inexpressivas e cenas desconexas, mas acerta em ser um filme bonito e bem produzido. É um filme que teria um grande potencial se tivesse tido um balanceamento melhor entre a produção cara e muito bem feita, com um enredo e conceito do filme mais coesos, já que o filme tenta cutucar a família real, mas ao mesmo tempo parece colocar a Diana como louca, e essa falta de posicionamento é o que mais deixa a desejar.

 

Ilustradora, Designer de Moda, Criadora de conteúdo e Drag Queen.

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