Crítica | Millenium: A Garota na Teia de Aranha (The Girl in the Spider’s Web)

Nota
3

A série de livros Millenium foi escrita pelo jornalista e escritor sueco Stieg Larsson, falecido antes mesmo de seus livros serem editados e publicados. O sucesso rendeu adaptações cinematográficas sueca da trilogia completa, cujo primeiro filme ganhou uma refilmagem americana dirigida por ninguém menos que David Fincher (Millenium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres, 2011). Quase uma década depois, a série retorna com Millenium: A Garota na Teia de Aranha, com a equipe toda renovada e uma história que faz parte do material original de Larsson, adaptado por David Lagercrantz.

A trama segue a protagonista da série Lisbeth Salander, agora interpretada por Claire Foy, que ficou conhecida como a pedra no sapato dos agressores de mulheres. Depois de lhe ser designada uma missão de destruir um código de controle de armas nucleares, ela entra numa fuga desesperadora, percebendo que as pessoas que a impediram de concluir sua tarefa estão associadas ao seu passado mais remoto.

Ao contrário da versão de 2011 – dirigida com o virtuosismo técnico habitual de Fincher, com as subversões na divisão de atos e a complexidade peculiar dos personagens, este A Garota na Teia de Aranha prefere ir pelo caminho mais seguro: o thriller de ação. O diretor Fede Álvarez, responsável pelos competentes e sólidos A Morte do Demônio (2013)O Homem nas Trevas (2016), usa de todo o seu estilo visual para elevar um roteiro que segue sem inovações a estrutura de vários James Bond ou Missão Impossível, com um acontecimento explosivo (aqui, literalmente) impulsionando uma jornada de fuga e reviravoltas previsíveis envolvendo interesses escusos de nações. Em suma, é um enredo razoavelmente bem amarrado, porém extremamente primário e rotineiro que não cria nenhuma particularidade para seus personagens (uma falta grave considerando as muitas camadas que Lisbeth Salander possui).

Claire Foy, versátil e compenetrada como sempre, encarna bem o espírito do papel, tanto na fisicalidade quanto na intensidade emocional; mas a história anula qualquer química ou nuance entre Lisbeth e Mikael (aqui interpretado sem nenhuma personalidade por Sverrir Gudnason) e traz dilemas morais muito batidos para a personagem, se aproximando do que mais parece uma história de origem de super-heroína. Até mesmo a vilã “quadrinhesca” está presente aqui sem nenhum desenvolvimento – ainda que interpretada com algum vigor pela muito boa Silvia Hoeks. 

Levando por esse lado, contudo, A Garota na Teia de Aranha não se sai mal, e cria ao menos duas ou três sequências de ação que beiram o eletrizante. A fotografia de Pedro Luque emula quase a mesma atmosfera do filme anterior e, auxiliada por uma montagem objetiva, leva o filme para frente sem barriga ou enrolação. Já a trilha sonora não tem o destaque daqueles tons sombrios e inesperadamente sensíveis de 2011.

Embora as partes envolvidas se esforcem para dar unidade ao projeto e, mais importante, para fazer deste uma espécie de “novo começo” para Millenium, o produto final não estabelece base o suficiente para futuros filmes, mas ao menos se sustenta de maneira decente como um suspense bonito e estiloso – e pouco mais do que isso.

 

De Recife (PE), Jornalista, leonino típico, cinéfilo doutrinador.

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